SACANAGEM
Inspirado na obra de Diego Fernandes: “Fala sério! É proibido ser diferente?”.
A peça se passa nos tempos atuais, e trata de problemas do cotidiano, o que faz com que o público se identifique com as personagens. Uma comédia bem séria. Que além de proporcionar diversão, traz a tona questões como: Casamento, castidade, virgindade, gravidez na adolescência, aborto, dst, e prostituição. Fazendo com que o público pense e reflita sobre seus reais conceitos.
Tudo começa quando Lucas é obrigado por sua mãe dona Estela, a casar com sua namorada, Kelly, que está grávida. Ele não aceita a idéia e continua á traindo com Bia a filha da empregada. Enquanto isso, Aninha sua prima, moça pura e inocente, que vem do interior para ajudar nos preparativos do casamento, se envolve com Miguel, um canalha, que só quer se aproveitar dela. Concomitante a tudo isso, seus irmãos: Rebeca, que se diz ser uma mulher moderna, tenta a todo custo levar o namorado Carlinhos, que quer casar virgem, pra cama. Zeca, um tímido rapaz que muda completamente, para conquistar á amada. E também Manu, uma patricinha que adora relacionamentos passageiros.
Sacanagem é então uma tentativa de resgatar valores tão necessários nos dias de hoje, como o amor, um sentimento que está sendo, pouco a pouco extinto de nossa sociedade.
PERSONAGENS
LUCAS- 18 anos- Um aventureiro que acaba sendo obrigado a casar com a namorada. Porém, ainda assim, ele continua sendo infiel a mesma.
KELLY- 17 anos- Uma garota apaixonada e muito ciumenta, que para segurar o namorado acaba, engravidando.
BIA- 14 anos- Uma jovem garota, que na tentativa de arrumar um namorado, acaba se envolvendo com Lucas.
ANINHA- 16 anos- Moça pura e inocente, que sonha encontrar seu príncipe encantado.
CARLINHOS- 17 anos- Sensível, romântico e apaixonado, sonha em casar virgem.
REBECA- 16 anos- Moderninha e fogosa, usa de toda sua criatividade para levar o namorado para cama.
MIGUEL- 19 anos- “Um galinha” que só pensa em diversão, bebida e mulher.
ZECA- 16 anos- Um tímido rapaz, que para conquistar à amada, muda completamente.
MANU- 17 anos- Não acredita no amor, metida a patricinha, e adora “ficar”.
DONA ESTELA- 39 anos- Viúva, mãe de Rebeca, Lucas, Zeca e Manu. Muito religiosa e conservadora da moral e dos bons costumes.
CENÁRIO - Uma sala com móveis modernos e arrojados. Com um corredor que dar para os quartos e outro para cozinha.
SACANAGEM
Original de Denilson David
PERSONAGENS
LUCAS
CARLINHOS
MIGUEL
ZECA
BIA
ANINHA
REBECA
MANU
KELLY
DONA ESTELA
NARRADOR – (VINDO DO MEIO DA PLATÉIA) Senhoras e senhores, o que é o amor? Lenda, superstição, sonho, realidade, ou pura ilusão? Este sentimento tão difícil de se explicar e tão mágico de se viver está sendo extinto pouco a pouco. Gravidezes na adolescência, dst’s, abortos, prostituições... conseqüências de uma sociedade que busca o prazer pelo prazer, essa geração tem se tornado cada vez mais cheia de sexo, de pornografia, e vazia de amor! E como já dizia um poeta “já estou cheio de me sentir vazio,” cheio de tanta sacanagem! (SAI E ABREM-SE AS CORTINAS).
DONA ESTELA- (ENTRA PARA ATENDER O TELEFONE, QUE ESTÁ TOCANDO) Alô! Oi, irmã Bastiana! Como vai? Ai, eu vou bem obrigada! Graças ao divino sangue de cristo, o Demônio saiu do rastro do meu filho! (LUCAS ENTRA SEM QUE ELA VEJA E ESCUTA A CONVERSA) Pois é, ele decidiu corrigir a besteira que fez, engravidou a namorada, sabe como são esses jovens de hoje. Não mais ele vai casar daqui à um mês. Você tá convidada, se o senhor permitir. Tchau, a paz irmã!
LUCAS- Como se não bastasse me obrigar a casar, a senhora ainda fica fazendo propaganda, é mãe?
DONA ESTELA- Claro filho, eu quero que todos fiquem sabendo. Ai, será o dia mais feliz da minha vida.
LUCAS- E o mais triste da minha!
DONA ESTELA- Filho não fala assim, se a Kelly escuta...
KELLY- (ENTRANDO) Eu já escutei dona Estela, (PEGANDO NA BARRIGA) tá vendo filhinho, seu pai não me ama mais, ele não quer mais nada comigo, eu sou uma desgraçada, eu não quero mais viver! Por favor, me mata dona Estela!
DONA ESTELA- Deus me livre, minha filha. Pelo sangue de cristo!
KELLY- Ai, eu tô ficando tonta, eu estou vendo uma luz... (DESMAIA).
LUCAS- Kelly! Mãe, faz alguma coisa!
DONA ESTELA- (GRITA) Bia, Bia! Traz água rápido! Kelly acorda Kelly!
BIA- (ENTRA CORRENDO COM UM COPO DE ÁGUA) Que agonia é essa, dona Estela.
DONA ESTELA- Tudo bem, mim da essa água minha filha. (JOGA ÁGUA EM KELLY, ELA TORNA) tudo bem querida?
KELLY- Lucas, olha pra mim, eu sou feia? Tenho mau hálito? Por que você não me ama mais?
DONA ESTELA- Claro que ama Kelly. O Lucas estava só brincando. Não era Lucas?
LUCAS – É era...
DONA ESTELA – Ai, o casamento de vocês será deslumbrante. Bia eu preciso de sua ajuda venha comigo. (SAI PARA COZINHA).
KELLY- Pedro Lucas Jorge Afonso e Silva, precisamos levar um papo sério.
LUCAS- O que é que tá pegando?
KELLY- Nosso casamento é daqui um mês, daqui a três meses o moleque nasce. E como é que nós vamos fazer pra dar de comer a ele?
LUCAS- E eu é que sei, dar de mamar até ele enjoar.
KELLY- Nem pensar meu bem. Eu dou de mamar agora, aí depois tá tudo caído, igiado, nem morta! Você pode cuidar em arrumar um emprego.
LUCAS- Nem pensar, Deus me livre! Já sei, registra o moleque no programa do leite, do governo.
KELLY- Boa, tem leite três vezes por semana.
LUCAS- Vamos por o moleque pra estudar bem cedo, aí ele fica recebendo o bolsa escola.
KELLY- É, ele já tá com a vida feita, mas e a gente?
LUCAS- Vamos nos cadastrar no Fome Zero!
KELLY- E nós, vamos morar aonde?
LUCAS- Vamos entrar pro movimento sem terra, e descolar uma casa maneira.
KELLY- (FALANDO COM A BARRIGA) Tá vendo filhinho, seu pai pensa em tudo! (PARA LUCAS) Vem, me dar um beijinho. (ELE Á BEIJA NA TESTA) Mais o que é isso Lucas, beijo na testa?
LUCAS- Não tem clima Kelly.
KELLY- Não tem clima? Eu parei de estudar, fui expulsa de casa, deixei de sair com minhas amigas. Tudo isso pra quê? Antes de noivarmos você era todo apaixonado agora...
LUCAS- Não começa Kelly!
KELLY- Já sei, você tá saindo com outra. Não é?
LUCAS- Chega!
KELLY- Quem é a sem futuro? Se você tá pensando em me fazer de corna, pode tirar o cavalinho da chuva. Você vai casar comigo, e tem que ser fiel.
LUCAS- Ai, que saco!
KELLY- (FALANDO COM A BARRIGA) Tá vendo filhinho, que vida triste vai ser a sua, seu pai é um homem sem coração, desalmado. E sua mãe, vai morrer antes de você nascer. Nunca esqueça de sua mãe, ela foi uma mulher forte.
LUCAS- Kelly pára com isso! O moleque vai nascer com depressão.
KELLY – Minha hora chegou a morte me chama!
LUCAS- Pra onde você vai sua louca?
KELLY- (BRAVA) Vou me suicidar na privada! (FALA PARA A BARRIGA) Ouviu filhinho? E o culpado será seu pai.
LUCAS - Espera! (TOCA A CAMPANHIA) Já vai, já vai!
CARLINHOS- (ENTRANDO) A Rebeca está?
LUCAS - Está no quarto, vou chama-la. (SAI PARA OS QUARTOS).
CARLINHOS- (SENTA-SE NO SOFÁ, ELE TRAZ UM LIVRO NA MÃO). Vou ler um pouco, (LENDO) Romeu, Romeu! Ah! Por que és tu Romeu? Renega o pai, despoja-te do nome; ou então, se não queres jura ao menos que amor me tens, porque uma capuleto deixarei de ser logo. (ENQUANTO ELE LER, VINDO DOS QUARTOS ENTRA REBECA VESTIDA DE BEIBIDOU).
CARLINHOS- (SUSPIRA) Ai Romeu e Julieta, eu e a Rebeca, a lua e as estrelas, ai o amor é lindo!
REBECA- (SURPREENDENDO-O) Linda sou eu Carlinhos! Ai amor eu estou tão afim. (ABRAÇA-O).
CARLINHOS- (NERVOSO) O que é isso Rebeca! Sua mãe, seus irmãos, podem entrar, tá maluca?
REBECA- Maluca por você amor! (NOVA INVESTIDA).
CARLINHOS- (OFENDIDO) para com isso Rebeca! Isso não é nada romântico.
REBECA- (CHATEADA) Ah não Carlinhos, assim não dá. A gente já namora um tempão...
CARLINHOS- (CORTANDO) um mês
REBECA- (IGNORANDO-O) e até agora nada.
CARLINHOS- Rebeca, temos que viver cada etapa das regrinhas do amor. Nos dois primeiros meses só selinho, no terceiro beijo de língua, no quarto abraço apertado, no quinto uns amasso, no sexto noivado, e no oitavo...
REBECA- (ANIMA-SE) O que amor?
CARLINHOS- (SUSPIRA) O casamento.
REBECA- (DECEPCIONADA) E o resto?
CARLINHOS- Eu já falei só depois do casamento. Eu quero casar virgem!
REBECA- (CHATEADA) Carlinhos, você tá de sacanagem comigo!
CARLINHOS- Vamos imaginar: você toda de branco...
REBECA- (ANIMA-SE) Beibidou branco amor, safadinho heim!
CARLINHOS- Eu estava falando do vestido de noiva, super hiper mega branco, uma grinalda de cinco quilômetros, quinze damas de honrra...
REBECA- (CORTANDO-O) Não sei pra que tanta honra!
CARLINHOS- (CONTINUANDO) E nós dois, puros virgens imaculados!
REBECA- Que horror! Vem cá, você é de que geração?
CARLINHOS- Da geração do amor e do respeito.
REBECA- Agora imagina você Carlinhos! Eu vestida de Eva, você de Adão. Nós dois no jardim do Edem...
CARLINHOS- (IMAGINANDO) Você de Eva e eu de Adão... Mas espera aí, esses dois não usavam roupas.
REBECA- Aí é que tá a emoção, aquele vento nos tocando. Eu e você, você e eu... naquela loucura, ai! Vamos seguir o exemplo deles amor e comer-mos do fruto proibido.
CARLINHOS- Você esqueceu, que depois de comerem esse fruto, eles foram expulsos do paraíso? (APROXIMA-SE) Rebeca, não pode ser assim, tem que ser uma noite mágica!
REBECA- (IRRITADA) Ai amor, eu sou uma mulher moderna, você tem que me entender. Pô!
CARLINHOS- Se você me ama, vai saber me esperar! Depois a gente se fala. (SAI PARA A RUA).
REBECA- Droga! ( DÁ A VOLTA POR TRÁS DO SOFÁ E SE ABAIXA)
CARLINHOS- (LENDO) Ai em teus olhos, há maior perigo do que em vinte punhais de teus parentes. Olha-me com doçura, e é quanto basta para deixar-me a prova do ódio deles. (SUSPIRA) Ai o amor é lindo!
REBECA- ( LEVANTA-SE CANTAROLANDO) Lálá, lálá, lálá, oi Carlinhos! (AVANÇANDO).
CARLINHOS- (ESPANTADO) O que é isso Rebeca?
REBECA- Ora amor, você não disse que nossa primeira vez teria que ser mágica, então, eu pensei... deve ser uma fantasia daquele safadinho. Aí me vesti de fadinha, só pra você! (NOVA INVESTIDA).
CARLINHOS- (ESQUIVANDO-SE) Rebeca, eu não quis dizer isso, você entendeu tudo errado.
REBECA- Amor não importa, vamos brincar de fada madrinha. Vai, eu vou realizar três desejos seus, os mais íntimos.
CARLINHOS- Primeiro, eu quero que você nunca deixe de me amar. Segundo, que me respeite... e terceiro..., que crie juízo!
REBECA- Ai amor que coisa melosa! Eu pensei que você fosse pedir umas safadezas, umas sacanagens!
CARLINHOS- Rebeca, acredite no amor, o amor é lindo.
REBECA- Amor, amor. Você vive lendo esse livreco, mas eu bem que sei, que os finados Romeu e Julieta gostavam de umas sacanagens.
CARLINHOS- O quê?
REBECA- Pois é, os dois viviam marcando esquema ás escuras, namorando escondidos, e o finado doidão, era doidão, pra dar uns pega na finada Julieta, e ela toda sonsa, se fazendo de difícil. Bicha siníca, até casar com ele escondida casou, só pra apressar a lua de mel.
CARLINHOS- Você está cometendo um crime contra um dos maiores clássicos do teatro. Está vulgarizando a obra de Shakespeare!
REBECA- Acredite se quiser, o finado Romeu era tarado na Julieta. Ah, vamos deixar os finados descansar em paz, e curtir nosso love. (DÁ UM SELINHO).
CARLINHOS- Você é meia desmiolada, mas eu gosto de você. Agora eu tenho que ir.
REBECA- (IRRITADA) Não amor o clima estava começando a esquentar!
CARLINHOS - Eu vou para a minha aula de ioga, depois a gente se fala. Tchau! (SAI PARA A RUA).
REBECA – Ai que homem gostoso! Mais ele é tão difícil... bem mais ele não pede por esperar! (SAI PARA OS QUARTOS)
(TOCA A CAMPANHIA)
BIA- Já vai, já vai. (ABRINDO A PORTA).
ANINHA- (ENTRANDO) A tia dona Estela mora aqui?
BIA- Mora, você deve ser...
ANINHA- (ABRAÇANDO-A) Aninha adesponha!
BIA- Pode entrar eu vou chama-la. (SAI PARA OS QUARTOS).
ANINHA- (ADMIRADA) Ai eu cheguei! Num tô creditando. (TRAZ UMA MALA) Eu cheguei nas cidade. Ai, tô muncionada, eu passei ali nas estradas, tinha montão de carro, montão assim ó. (FAZ GESTOS COM AS MÃOS) Tudo andando nas filinhas, a coisa mai linda! Tudo culorido! Mai eu morro de medo de andar naqueles carrão, prifiro andar de carroça. (A PORTA FICA ABERTA, ENTRA MIGUEL) Minha nossa senhora dos príncipe encantado, mai que home lindo! Ai, eu acho que eu ei de ser muito da feliz aqui.
MIGUEL- (USA ÓCULOS ESCUROS). Oi!
ANINHA- (TÍMIDA) Oi!
MIGUEL- Eu vim falar com o Zeca. Prazer meu nome é Miguel, você quem é?
ANINHA- Sou prima do Zeca, Aninha adesponha! (ELE BEIJA A MÃO DELA).
MIGUEL- Você se machucou?
ANINHA- Vê, mai pro mode de que eu ia de se machucar?
MIGUEL- Quando caiu do céu, você é um anjo!
ANINHA- Ai Jesus! Ai fiquei toda muncionada, toda rupiada óia. (MOSTRA OS BRAÇOS) Ui! O senhor num fala essas coisas moço, eu sou moça de famia.
(ENTRA BIA E DONA ESTELA)
DONA ESTELA- Aninha minha sobrinha querida! (ABRAÇA-A).
ANINHA- Tia, quanto tempo! Que sardade!
DONA ESTELA- (GRITA) Filhos, filhinhos venham receber a prima de vocês! (ENTRAM LUCAS, ZECA, MANU, REBECA E KELLY).
MANU- Priminha, você chegou! Ai eu tô roxa, roxa (ABRAÇA-A).
ANINHA- Quanto tempo Manu!
LUCAS- E aí Aninha, Beleza!
ANINHA- (ANINHA SEM ENTENDER) Brigada!
KELLY- Oi! Eu sou Kelly, futura mulher do Lucas. Obrigada por ter vindo nos ajudar com o casamento, são tantas coisas.
ANINHA- Aninha adesponha!
REBECA- Oi Aninha! Menina quanto tempo! Como você mudou!
ZECA- Oi a-a-a-ni-ni-nha!
ANINHA- Zeca ocê, ainda é gago!
DONA ESTELA- Aninha, essa é Bia, a filha da empregada, e aquele é Miguel, amigo do Zeca.
BIA- Tudo em cima!
MANU- Agora vem Aninha, vamos guardar essa mala.
REBECA- Ai temos tanto o que fazer.
DONA ESTELA- Por aqui querida! (SAEM DONA ESTELA, ANINHA, REBECA E MANU PARA OS QUARTOS).
KELLY - Bia você me prepara um lanche?
LUCAS - Epa, lanchinho eu também quero.
BIA- Claro, eu já tô prontinha! (SAEM PARA A COZINHA).
MIGUEL- E aí Zeca, cara vamos lá no Bar da Creuza?
ZECA- Da que-quelas garo-ro-tas eu tô tô fora!
MIGUEL- Você vai acabar morrendo virgem.
ZECA- Ho-ho-hoje eu vou me-me de-declarar pra bi-bi-Bia eu escrevi uma car-carta, e-ela va-vai ado-dorar.
MIGUEL- Você ainda tá afim da filhinha da empregada?
ZECA- (ELE RETIRA A CARTA DO BOLSO E MOSTRA A MIGUEL) Cla-cla-cla-ro que sim, Olha a car-carta.
MIGUEL- (PEGANDO A CARTA) Meu doce amor... cara, eu acabo de ter uma idéia?
ZECA- Q-que idéia?
MIGUEL- A tua prima é muito gata, meu amigo, eu preciso dessa carta, pra mandar pra ela.
ZECA- Ma-ma-mais a bi-Bia?
MIGUEL- Cara quebra esse galho, que depois eu te ajudo.
ZECA- Ju-ju-ra! O-olha lá a an-an-ninha é min-min-nha prima.
MIGUEL- Deixa comigo. Caiu na rede é peixe. Agora eu vou lá no bar da Creuza. (SAI PARA RUA, CARLINHOS VEM ENTRANDO).
ANINHA- (ENTRANDO DOS QUARTOS) Ai, tô dorando essa casa!
ZECA- Q-que bom, o-o-lha é pra vo-vo-vo-cê. (ENTREGANDO A CARTA).
ANINHA- Uma carta pra eu? Ai minha nossa senhora dos príncipe encantado! Mai quem mandou?
ZECA- Fo-foi o Mi-mi-miguel. Vo-você conhe-nhe-nheceu ele quando che-chegou. (SAI PARA OS QUARTOS).
ANINHA- Ai Jesus! Mia primera carta de amor! (ABRE A CARTA E LER) Meu doce amor. (Á PARTE) Ai, eu sou doce! Desde da primeira vez que ti vi, não consigo te esquecer. Queria dizer te amo, mas a timidez não deixa. (Á PARTE) Ai que lindo! Um abraço e um beijo! Mai ai Jesus, ele ama eu, ai que moção. Mai quando eu ver ele, vou me fazer de difici.
MANU- (ENTRANDO DA RUA) Oi priminha, que cara é essa?
ANINHA- É o amor prima. Eu tô toda apaixonada.
MANU- Mais já Aninha? Menina fiquei roxa, roxa.
ANINHA- Foi amor as primeira vista, ele tá todo apaixonado por eu. O nome dele é Miguel.
MANU- O Miguel? (Á PARTE) Tá ferrada.
ANINHA- Tô mermo ferrada de amor. Ele até mandou carta pra eu.
MANU- Deixa eu ver. Ai eu fico roxa, roxa. É, parece que o caso é sério. (OLHA PRA ANINHA) Você só tem que mudar um pouquinho.
ANINHA- Mudar, mai mode que?
MANU- Aqui na cidade as coisas são diferentes, Você tem que ficar na moda.
ANINHA- (CONFUSA) Nas modas?
MANU- É uma roupas mais sensuais, mais provocantes, um batonzinho... (O CELULAR TOCA, ELA ATENDE) Ai não, não acredito, é o Beto tarado. Ele adora beijar meu suvaco, eu tenho cócegas. Alô! Oi Betão, passar aí? Não sei... (ANIMA-SE) você comprou um presentinho pra mim? Tá, eu vou, mas só se você prometer não beijar meu suvaco. Porque eu não gosto. Ai que saco! Betão eu não depilei, é pois é. Tchau!
ANINHA- (ESTRANHANDO) A prima deixa ele tirar os cabimento com ocê?
MANU- Aninha hoje em dia tudo pode, tá tudo liberado. Ai, eu fico roxa, roxa.
ANINHA- Liberado? Mai nunca que eu ei de deixar home nenhum beijar o suvaco de eu.
BIA- (ENTRA BIA DA COZINHA VARRENDO) Aí Manu, você nem me contou como foi a balada, menina.
MANU- Ai, eu fiquei roxa, roxa, curtir todas tô até cansada.
BIA- Cansada de quê?
MANU- Porque a noite de ontem foi muito romântica pra mim sabe...
BIA- Jura?
MANU- (SUSPIRA) Juro, eu beijei o Felipe, beijei o Mateus, o Alex, o Dani, o Beto e fiquei com Gustavo, com o Ricardão, com o Robinho aloprado e com o Ronaldo.
BIA- (SE ABANA) Menina, que loucura, você devia arrumar um pra mim. Eu já tô prontinha.
Manu- AI, EU FIQUEI ROXA ROXA AGORA EU TENHO QUE IR TCHAUZINHO. (SAI PARA A RUA).
BIA- (VINDO DOS QUARTOS) E aí Aninha tá gostando?
ANINHA- Muito por demais. Nesse cadim de tempo eu já achei até um príncipe.
BIA- Sério? Ai eu já tô prontinha. Eu até tenho um namorado, mas não é nada sério ainda. (PAUSA. PARA ANINHA) Quem é ele?
ANINHA- Mai eu tô nervosa, eu nunca beijei.
BIA- O quê? Menina tu já devia tá prontinha.
ANINHA- Será que beijar dói?
BIA- Menina, eu tinha de medo de morrer sem beijar na boca, beijar é bom demais!
ANINHA- Ocê já beijou? Tão novinha.
BIA- Novinha nada. Eu já tenho quatorze anos e meio, já tenho peito e bunda. Já tô prontinha.
ANINHA- Mai ocê num gosta mais de pular corda, brincar de boneca, de...
BIA- (CORTANDO-A) Isso nem existe mais menina, as crianças hoje já nascem pedindo batom, maquiagem e salto alto.
ANINHA- (ASSUSTADA) Ai Jesus! Só pode ser os fim do mundo. Mas ocê num queira butar as carroças nas frente dos boi que num da certo. Eu vou cuidar no enxoval do primo. (SAI PARA OS QUARTOS).
BIA- Muito criança, muito criança, ora essa! Tem menina com dezoito anos que já é avó. (PENSANDO) Será que tá certo o que eu estou fazendo, saindo com homem casado? Ah, mas também, o Lucas ainda não é casado, é noivo. E que não tem cão caça com gato.
LUCAS- (VINDO DOS QUARTOS) E aí gatinha? (ABRAÇANDO-A).
BIA- (AFASTA-SE) E aí digo eu.
LUCAS- (VINDO DOS QUARTOS) O minha gostosa?
BIA- Para Lucas, eu já falei que aqui na sua casa não.
LUCAS- O que foi?
BIA- Eu sei que a Kelly vai ter um filho seu, mas não precisa casar com ela. Eu não quero ser mais a outra. Eu já tô prontinha pra ficar com você.
LUCAS- Qual é Bia?
BIA- Qual é você, tá pensando que eu sou tonta?
LUCAS – Biazinha não fala assim que maltrata.
BIA- Eu só me envolvi com você, porque não achei nada melhor. Eu morria de medo, de morrer sem beijar na boca. Você não terminou com a Kelly ainda.
LUCAS- Tudo bem, eu vou pensar!
BIA- Vai pensar coisa nenhuma! Eu me entreguei pra você, porque você disse que terminar com a Kelly e ficar comigo! Eu confiei em você Lucas. Se você não desistir desse casamento, eu abro o jogo, e conto que ela tá triste de ser chifrada.
LUCAS- Calma, tudo vai se resolver.
BIA- Calma nada Lucas! Você me pediu uma prova de amor e eu dei. Agora é você que tem que provar o seu. (SAI PARA A COZINHA).
LUCAS- Me da um beijinho vem. (VÃO SE BEIJAR, DONA ESTELA ENTRA, ELES SE ASSUSTAM).
DONA ESTELA- (ENTRA DOS QUARTOS COM UM CARTAZ ONDE SE LÊ: ABAIXO A SACANAGEM VIVA O AMOR). Abaixo a sacanagem, viva o amor! Viva o amor, abaixo a sacanagem! O homem de hoje se coisificou na busca do prazer pelo prazer. Sem amor, sem sentimento, só pode ser coisa do demônio! Isso está acabando com a nossa sociedade. Por isso a partir de hoje, dou início a campanha : abaixo a sacanagem viva o amor!
LUCAS- Que papo é esse?
DONA ESTELA- Filho, eu e as irmãs da paz, lançamos esta campanha, e pretendemos alcançar até os confins da terra. Sairemos de porta em porta, de rua em rua, de escola em escola. Vamos resgatar a moral e o bom costume. Que bom seria que todos fossem responsável como você, honesto, fiel a mulher que ama, eu tenho muito orgulho de você!. Bia minha filham, você não quer me ajudar na campanha? Eu estava pensado você de madre, andando pelas ruas...
BIA- (DISFARÇANDO) O que é isso dona Estela, pirou? Que papo é esse?
DONA ESTELA- Bia, isso é uma obra de fé. Você não vê que nos dias de hoje os abortos, as dst’s, gravidezes na adolescência, e a severgonhice estão invadindo a sociedade.
LUCAS- Mas a camisinha está aí, sem falar que televisão, rádio, escolas, hospitais nos alertam o tempo todo.
DONA ESTELA- Sei, o tal sexo seguro, mas ainda assim as relações com um único parceiro, e a castidade são os melhores meios de prevenção.
LUCAS- Castidade, único parceiro, mãe acorda nós estamos no século XXI.
DONA ESTELA- Por isso a sacanagem pode rolar solta? Não filho, quem tem que acordar é você. Essa realidade só vai mudar se começar por cada um de nós.
BIA- Epa, o papo está ficando sinistro. Eu vou lavar minha louça (SAI).
DONA ESTELA- Essa menina não está bem, você percebeu meu filho? Só pode ser o demônio. Essa menina tem encosto, eu vou falar com ela (SAÍ PARA A COZINHA).
LUCAS- Não viaja mãe (SAI PARA COZINHA).
CARLINHOS- Aporta aberta? Estranho. (GRITA) Rebeca, Rebeca! (DE REPENTE VINDO DA RUA, ENTRA UM LADRÃO CORRENDO E COM UMA ARMA).
LADRÃO- Se liga aí meu irmão, mãos pra cima!
CARLINHOS- Calma aí cara, eu não moro aqui. E aqui é uma casa de família.
LADRÃO- Que calma o que rapa? Se liga!
CARLINHOS- Olha leva tudo, os móveis, as panelas, os eletrodomésticos. Mais não me mata por favor, eu sou muito novo para morrer, tenho apenas dezessete anos. Minha mãe disse que me matava se eu morresse antes dela.
LADRÃO- Que matar o que rapa? Quem tá falando em matar? E eu também não quero levar nada.
CARLINHOS- Não? O que você quer então?
LADRÃO- Eu vi você entrando, e vim bater um papo com você.
CARLINHOS- Ladrão estranho. O que você quer comigo?
LADRÃO- Olha cuida de sua namorada, por que se não...
CARLINHOS- (CORTANDO) Se não o que? O que é que tem a Rebeca?
LADRÃO- Você tem que dar uns trato nela, pegar ela de jeito, entendeu?
CARLINHOS Nós vamos casar virgens, puros, imaculados.
LADRÃO- Se ajoelha meu irmão e repete comigo: a Rebeca é uma gostosa! (APONTANDO A ARMA).
CARLINHOS- (DE JOELHOS) A Rebeca é uma gostosa!
LADRÃO- Eu fico doidão com ela!
CARLINHOS- Eu fico doidão com ela!
LADRÃO- Eu vou dar uns pega nela! Vou pegar ela de jeito!
CARLINHOS- Isso eu não repito! Tá maluco? E as regrinhas do amor?
LADRÃO- Quer morrer meu irmão? (APONTANDO A ARMA)
CARLINHOS- Não, quero não.
LADRÃO- Então repete!
CARLINHOS- (SOFRENDO) Eu vou dar uns pega nela! Vou pegar ela de jeito!
LADRÃO- Agora promete! Eu prometo...
CARLINHOS- Eu prometo...
LADRÃO- Que vou levar a Rebeca pra cama!
CARLINHOS- Como é que é? Vá me desculpar seu ladrão , mas isso vai contra todas as regrinhas do amor.
LADRÃO- Quer morrer? Vamos logo mané! (APONTANDO A ARMA).
CARLINHOS- (QUASE MORRENDO) Eu prometo pra nossa senhora, que vou levar a Rebeca pra cama!
LADRÃO- Agora se manda!
CARLINHOS- (LEVANTANDO-SE) Não faça mau a ninguém, por favor! (SAI CORRENDO).
REBECA- (TIRANDO O CAPUZ) Ufa! Como foi difícil fazer um ladrão! Ai, eu acho que dessa vez vai dar certo. O Carlinhos sempre foi muito religioso. Ele vai ter que cumprir a promessa. Ai, agora eu vou preparar a próxima parte do plano. (VAI SAINDO)
ZECA – Que ro-ro-roupa é é essa?
REBECA – Não enche irmãozinho.
ZECA – Se se amos-amos-tre viu!
(TOCA A CAMPANHIA, ZECA ATENDE)
MIGUEL- (ENTRANDO) E aí Zeca, a carta deu certo?
ZECA- A-a-até de-demais!
MIGUEL- É meu amigo, caiu na rede é peixe.
ZECA- Você di-di-disse que ia me a-a-ajudar com a bi-bi-Bia.
MIGUEL- Tudo bem! Primeira coisa: Mulher não gosta de homem certinho meu, você tem que mudar..
ZECA- Mu-mu-mudar?
MIGUEL- É tira esses óculos. Estufa o peito, e age como macho!
ZECA- Ma-ma-mais eu já sou ma-ma-macho.
MIGUEL- (ZOMBANDO) Macho de verdade cara!
ZECA- (SEM ENTENDER) De ver-ver-verdade?
MIGUEL- É que, tal você pegar umas garotas você tem que provar que é homem cara!
ZECA- (CONFUSO) Pro-pro-provar?
MIGUEL- Claro meu, olha pra mim. Eu sou demais, eu sei o que eu estou dizendo. As minas se amarram em mim!
ZECA- Co-co-como a-a-assim?
MIGUEL- E você também tem que ser bem abusado!
ZECA- (IMITANDO) A-bu-bu-sa-sado!
MIGUEL- É, e tem que falar grosso.
ZECA- (AINDA IMITANDO-O) Fa-fa-falar grosso!
MIGUEL- E tem que ser malandro!
ZECA- Malandro!
MIGUEL- Tem que coçar o saco, cuspir, arrotar!
ZECA- Ma-ma-machão!
MIGUEL- É isso aí meu, você aprende rápido. Agora vamos para a prática, vamos lá no bar da Creuza.
ZECA- Va-va-vamos ne-ne-nessa!
MIGUEL- Antes, é melhor você tirar essa roupinha de mané, e vestir uma roupa de macho!
ZECA- Tá le-le-legal! Vo-vou ves-vestir uma ro-ro-roupa de ma-macho. (VAI SAINDO PARA OS QUARTOS E PASSA POR ANINHA).
ANINHA- Oi primo! (VER MIGUEL SEM QUE ELE PERCEBA) Príncipe! Ai, cadê a Manu? Ela disse que eu devia de dar umas mudada, mai eu num sei como. (COM UM BATOM) Eu peguei uns batom dela. Eu ei de ficar muito das gatona. Mai eu num truxe nem espei, mai vai assim mermo. (PASSA O BATOM APRESSADA E SE BORRA TODA) Ai será que ficou bom?
MIGUEL- (VINDO DA COZINHA) Oi gata!
ANINHA- Ai Jesus! Oi, ocê num gustou dos meu batom?
MIGUEL- Que boca linda você tem!
ANINHA- Eu gostei de mais da carta.
MIGUEL- (APROXIMANDO-SE ) Foi? Então porque você não me da um beijão daqueles.
ANINHA- (ASSUSTADA) Não! Mai num pode, minha mãe me ensinou a eu que tem que segui as regrinhas do amor. E eu num posso beijar assim de vez, tem que ter dois mês de selinho.
MIGUEL- O quê? Pensei que você fosse uma garota moderninha.
ANINHA- Mai eu sou toda das mordenas.
MIGUEL- Então me beija.
ANINHA- (ENVERGONHADA) Mai eu num sei beijar.
MIGUEL- Eu te ensino. Olha você fecha os olhos, (ELA SEGUE AS INSTRUÇÕES) faz biquinho. (ELE VAI BEIJA-LA, MAS ELA RIR) O que foi?
ANINHA- É que eu sou toda cheia das vergonhas.
MIGUEL- Vamos tentar mais uma vez. (VAI BEIJA-LA, MAS ELA RIR NOVAMENTE) O que foi agora?
ANINHA- É que eu fico toda da nervosa.
MIGUEL- Relaxa!
ANINHA- Mirguel, príncipe umas pergunta: O que eu faço com a cabeça?
MIGUEL- Como assim?
ANINHA- É que eu vejo nas novela, as moça joga as cabeça pos lado e pos outro.
MIGUEL- (IMPACIENTE) Você balança a cabeça pro lado que quiser, na hora que quiser!
ANINHA- (NERVOSA) Então tá bom. Ai minha nossa senhora dos príncipe encantado, ajuda eu. (ELA FAZ BICO E FECHA OS OLHOS, ELE A BEIJA. ELA TODA DESAJEITADA NÃO PARA DE BALANÇAR A CABEÇA).
MIGUEL- Gostou?
ANINHA- Faz cosquinha nas boca.
MIGUEL- Assim é bem melhor! (AGARRA E ROUBA UM GRANDE BEIJO, ELA ESPERNEIA).
ZECA- (VINDO DOS QUARTOS) Mi-mi-guel?
(MIGUEL SOLTA ANINHA QUE FICA EM ESTADO DE CHOQUE)
ZECA- E a ro-ro-roupa fi-fi-ficou maneira?
MIGUEL- É até que ficou legal. Agora vamos lá no bar da Creuza.
ZECA- De-de-de-morou! (SAEM PARA A RUA, ENTRA ANINHA E MANU VINDO DA COZINHA).
MANU - E ai, Aninha tudo bem?
ANINHA - Eu, beijei prima eu beijei. Ai eu fiquei tão nervosa, que eu quase, fazia xixi nas saia.
MANU- A prima, você tem que se acostumar. Por aqui, as coisas são assim mesmo. Você gostou do beijo do Miguel?
ANINHA- Ele primeiro ia me ensinar beijar, eu fechi os zoi, fiz biquim, balancei as cabeça e tudo, adespois ele me deu um pegão, arrochou eu e quase arrancava minha língua.
MANU- Ai eu fico roxa, roxa. Mas agora você tem que se preocupar com o seu visual.
ANINHA- Mai ocê acha mermo que eu tenho que mudar?
MANU - Claro. Você tem que ser mais ousada... Mais pode deixar comigo que eu dou um jeito em você. Agora vamos menina, você vai ficar um arraso. (SAEM PARA OS QUARTOS.
KELLY- Pára de me seguir Pedro Lucas Jorge Afonso e Silva. Não sei por que você não deixou eu fazer a viagem.
LUCAS- Só se eu fosse maluco, de deixar você se matar com essa criança na barriga.
KELLY- (INDIGNADA) Então quer dizer que se eu não estivesse grávida, você teria deixado eu fazer a viagem numa boa.
LUCAS- Claro! você seria muito mais feliz lá no andar de cima. Eu só teria pena de São Pedro.
KELLY- Agora não tem quem me segure. Eu acho que vou até organizar uma despedida de solteira bem fatal.
LUCAS- Nem pensar, mulher minha tem que andar na linha. Eu que terei uma despedida de solteiro.
KELLY- Você pode, eu não? Tá vendo filhinho? (FALANDO COM A BARRIGA) Sua mãe tem uma vida de escrava! Não posso sair com as amigas, não posso mais ir para as farras. Sem falar que eu vou ficar semi-analfabeta, porque não posso mais estudar. Já o carrasco do seu pai, sai toda noite, e ainda filhinho tem uma praga de uma amante.
LUCAS- Não faz isso Kelly, isso é chantagem emocional com o moleque, se continuar assim ele vai nascer com paterfobia.
KELLY- E o que danado é isso?
LUCAS- Pater vem de paternidade e fobia de medo. É isso, ele vai nascer com medo do pai.
KELLY- Nossa vida era outra antes de noivarmos. Se eu soubesse que ia ser assim, eu não teria inventado nada.
LUCAS- E o que foi que você inventou?
KELLY- Eu menti, eu não estava tomando pílula, eu estava com medo de lhe perder. Achei que um filho poderia nos unir.
LUCAS- (ESPANTADO) Você provocou a gravidez? Você é uma mula! Eu tenho apenas dezoito anos e você dezessete. Não sabemos nem cuidar do nosso próprio nariz, quanto mais de uma criança! Onde você estava com a cabeça?
KELLY- Sei lá, devia ser um lugar bem podre.
LUCAS- Isso vai me trazer problemas por toda a vida, eu acho que eu vou procurar um psicólogo. (VAI SAINDO PRA RUA, ENTRA MANU VINDO DOS QUARTOS).
KELLY- Você deveria procurar um A.S.A, associação dos sem vergonhas anônimos. Não esqueça que temos que ir para o ensaio do casamento.
LUCAS- Fala sério, além de casar você ainda quer que eu ensaie.
KELLY- Insensível! (FALANDO COM A BARRIGA) está vendo filhinho, como é sofrida a vida da sua mãe. (GRITA) Bia, Bia!
BIA- (ENTRA CORRENDO DA COZINHA) Chamou Kelly?
KELLY- Chamei, chamei sim. Por favor Bia, me traga uma cachaça daquelas bem fortes, de virar a perna.
BIA- Já volto. (VAI SAINDO, E SÓ AÍ CAI EM SI) Cachaça? Mas Kelly não vai fazer mau para a criança?
KELLY- Não! Meu filho vai entender. Ele é muito compreensivo.
BIA- Kelly o que houve?
KELLY- O Lucas está me traindo com uma baranga, uma pilantrinha qualquer, você acredita?
BIA- (DISFARÇA) Lucas, como você teve coragem?
LUCAS- Ah não, duas é demais!
KELLY- Agora me diga Bia o que você faria com uma criatura dessa?
BIA- Eu? Rezava por ela, entregava ao pai.
KELLY- Não. Eu estava pensando em algo mais cruel, sabe? Tampe os ouvidos meu filho. Eu estava pensando em pegar a bicha pelo pescoço dar uns tapas na cara dela, e depois torcer, torcer, mais torcer de um jeito... (ZECA ENTRA DA RUA COM UM ENVELOPE).
BIA- Aí Zeca meu filho, ainda bem que você chegou. Toma conta desses dois que o bicho tá pegando (SAÍ PARA COZINHA).
ZECA- Es-es-espe-pera Bia..
KELLY- Eu quero saber o nome, eu vou cortar o cabelo dela de foice anda desembucha!
LUCAS- (PEGA-A PELO BRAÇO) Vê lá como fala comigo!
KELLY- Você está me machucando me solta! (EMPURRA LUCAS) Ô Bia, traz a cachaça. Desculpa filhinho, mas eu vou me esculhambar, vou virar bandida.
ZECA- Ca-ca-calma aí Ke-Kelly.
LUCAS- Tá vendo meu filho, quem é a sua mãe de verdade? Quer saber? Cansei Zeca diz pra essa debi mental dá o fora da minha casa.
ZECA- E-e-ele man-man-mandou...
KELLY- (CORTANDO) Pergunta pra ele se ele pensa que eu sou papel higiênico para ele usar e jogar fora.
ZECA- E-e-ela tá per-per-pergun-tando...
LUCAS- (CORTANDO) Diz pra ela que acabou. Não vai ter casamento!
ZECA- A-a-ca-cabou...
KELLY- (CORTANDO) Diz pra ele que eu estou decidida, vou virar bandida, e vou esquartejar a vadia que está saindo com ele e depois vou cortar os possuídos dele fora.
ZECA- (JÁ IMPACIENTE) E-e-ela...
LUCAS- Meus possuídos não! Ô Zeca...
ZECA- (NERVOSO) Che-che-che-ga! Va-va-vão se da-da-nar vo-vocês do-dois.
LUCAS- Boa idéia, vai se danar Kelly! (SAI PARA OS QUARTOS).
KELLY- Volta aqui! Pedro Lucas Jorge Afonso e Silva! (SAI TAMBÉM PARA OS QUARTOS).
MANU- (PASSANDO POR KELLY E LUCAS) Eles sempre brincam de uma maneira estranha. Ai eles são tão felizes. Aninha pode vim, priminha fica tranqüila você está perfeita!
ANINHA- (ENTRA COM UMA ROUPA DECOTADA, MUITO CURTA E DE SALTO) Ai Manu, eu tô toda desajeitada, eu num sei andar nessas coisa.
MANU- Você está linda, ai eu tô roxa, roxa. Aninha o Miguel vai adorar.
ANINHA- Mai eu pensava que os príncipe adevia de ser romântico.
MANU- Ah, aquilo foi só o começo tem muito mais além do beijo e do abraço.
ANINHA- (ASSUSTADA) Mais? Ai Jesus, minha nossa senhora dos príncipe encantado ajuda, eu.
MANU- Você está quase pronta. Roupa, maquiagem, agora solta o cabelo e joga. (ANINHA SEGUE AS INSTRUÇÕES) Isso, agora anda e rebola bem.
ANINHA- Arre, mai eu tô muito das feia.
MANU- Perfeito! Agora você é Ana tesão.
ANINHA- Cruz credo! Esses negócio de Ana dos tesão deve de ser até pecado.
MANU- Que nada priminha, como diria a Bia: você está prontinha!
ANINHA- Mai pra quê?
MANU- Pra se entregar e conhecer o paraíso.
ANINHA- Quer dizer que eu ei de morrer?
MANU- Não querida, o paraíso que eu estou falando é outro... (COCHICHA).
ANINHA- (ASSUSTADA) Ocê quer dizer...
MANU- Isso mesmo filhinha!
ANINHA- (IRRITADA) Manu, ocê me arespeita, me arrespeita que eu sou moça de famia!
MANU- Que mané respeito, você não ganha nada com isso. Aninha, menina fecho! Você tá o bicho!
ANINHA- Manu que eu num tó bem, mai eu tô mermo parecendo um bicho?
MANU- Não querida, eu quis dizer que você está linda, você já tá prontinha!
ANINHA- Jura? Será que o príncipe vai gostar? (TOCA A CAMPANHIA)
MANU- Deixa eu atender (ATENDE A PORTA). Oi Miguel! (SAI PARA OS QUARTOS).
ANINHA- Ai Jesus!
MIGUEL- (ENTRANDO) Uau! Que transformação!
ANINHA- Gostou de eu assim?
MIGUEL- Você tá muito gata!
ANINHA- Brigada!
MIGUEL- Aninha...
ANINHA- (CORTANDO-O) Aninha não. Ocê pode me chamar eu de Ana dos tesão.
MIGUEL- Gostei, Ana tesão! Gata, eu estou precisando falar com você.
ANINHA- Ai minha nossa senhora dos príncipe encantado!
MIGUEL- Olha gata, eu queria ficar com você.
ANINHA- Ficar com eu? Mai eu num tô entendendo Miguel, eu sou moça donzela.
MIGUEL- Não tem nada de mais em ficar.
ANINHA- Mai eu num sei nem o que é ficar.
MIGUEL- É o mesmo que namorar, só que sem compromisso, só uma noite.
ANINHA- Mai abraça?
MIGUEL- Claro.
ANINHA- Mai beija?
MIGUEL- Claro, se não qual a graça?
ANINHA- Mai sem compromisso? Ai Jesus deve de ser até pecado.
MIGUEL- Que nada gata (BEIJA NO ROSTO).
LUCAS- (ENTRANDO, VINDO DA RUA) Atrapalho alguma coisa?
ANINHA- Não. Pode entrar primo ocê num atrapalha nada. (SAI PARA A COZINHA).
ZECA- (ENTRANDO, VINDO DA RUA) E a-aí ga-ga-le-lera?
LUCAS- Zeca, o que aconteceu com você?
CARLINHOS- (VINDO DA RUA) Zeca o que aconteceu com você?
ZECA- A-a-a-go-gora nin-nin-ninguém ma-mais vai me zu-zuar. Eu per-perdi a vir-vir-virgindade. Eu saí com uma ga-ga-garota, e ela fe-fez o ser-ser-viço.
CARLINHOS- Ai que falta de amor, vem cá você usou camisinha não foi?
ZECA- Cla-cla-claro, q-q-que n-não... eu es-es-queci, eu es-es-tava ani-ani-madão, no embalo... mas ela estava lim-lim-pinha cer-cer-teza.
MIGUEL- Isso é besteira.
LUCAS- Eu é que sei, eu também achava isso antes da Kelly engravidar.
CARLINHOS- Sei não, acho melhor você correr e fazer um exame.
MIGUEL- E você Carlinhos, já pegou a Rebeca?
LUCAS- Vê lá como fala cara, ela é minha irmã.
CARLINHOS- Eu não peguei ninguém, a mulher não é uma coisa, um animal. Ela é alguém, é uma pessoa. E eu e a Rebeca vamos casar virgens, puros e imaculados.
MIGUEL- Sei. (PARA ZECA) E a garota lá era gostosa mesmo?
ZECA- Ô se e-e-era.
CARLINHOS- Como vocês podem avaliar uma mulher pelas aparência? Um olhar que só vê corpo bonito. E o caráter, A cabeça dela não importa?
TODOS- Não!
CARLINHOS- Bando de insensíveis. Vocês não sabem o quanto o amor é lindo!
LUCAS- (PARA ZECA E MIGUEL) Será que ele é?
MIGUEL- Bem, o papo tá muito bom mais eu vou indo. (SAI PARA RUA).
ZECA- E eu vo-vou no ban-ban-banheiro (SAI).
LUCAS- Eu, eu... eu também. (SAI PARA OS QUARTOS).
ANINHA- (ENTRA VINDO DA COZINHA) Ai, eu ainda num custumei com essas sandaias. Eu fico andando toda das bamba. (TROPEÇA, E SE APOIA EM CARLINHOS) Ai Jesus! Desculpa eu moço, é que eu sou mermo toda das desastrada.
CARLINHOS- Não, não foi nada. Mas quem é você?
ANINHA- Eu sou sobrinha da minha tia, dona Estela, Aninha adesponha.
CARLINHOS- (QUE ESTÁ SEMPRE COM O LIVRO) Prazer Aninha. Eu sou Carlinhos, namorado da Rebeca.
ANINHA- (PEGANDO O LIVRO DE CARLINHOS) Mai é um livro? Ai eu doro ler. A prossora Francisca, ensinou a eu as letrinha tudim. (LENDO) Romeu e Julieta. Ah, o amor é lindo!
CARLINHOS- Você também acha?
ANINHA- Acha o quê?
CARLINHOS- O amor lindo.
ANINHA- Mai é lindo demais da conta. (PAUSA) Mai eu gosto mermo é daquela história que a bruxa manda o moço rancar os coração das princesa, mai o moço num arranca, ele arranca mermo é o coração do porquim. Aí as princesa corre, corre e acha uma casa todas pequenininha. A coisinha mai linda. A casa é toda cheinha de anão pequenim. Ai eu fico toda muncionada.
CARLINHOS- Eu também gosto muito de branca de neve e os sete anões.
ANINHA- Ai, eu queria muito viver uma história dessas. Ser uma princesa toda bonita. Toda da encantada.
CARLINHOS- (SUSPIRA) Ai, eu também!
ANINHA- (ESTRANHA) Ocê?
CARLINHOS- Eu quis dizer que também gostaria de viver uma história de amor assim.
VOZ DE REBECA- Carlinhos amor, você está aí?
CARLINHOS- (ENVERGONHADO) É a voz da Rebeca. Estou sim amor!
REBECA- Venha aqui no meu quarto vem meu bem.
CARLINHOS- Depois amor. (PARA ANINHA) Eu não posso ir no quarto dela só depois do casamento.
ANINHA- Mai tá certo, tem que ter respeito.
CARLINHOS- Bem, mais eu não estou com pressa, eu espero aqui mesmo. (SENTA NO SOFÁ)
DONA ESTELA- A minha campanha foi um sucesso, oi Carlinhos tudo bem? Oi Aninha, então tá gostando?
ANINHA- Muito demais, eu até já achei um príncipe.
DONA ESTELA- É ainda não falamos sobre isso, mas que conversa é essa Aninha? Faz apenas vinte dias que você está aqui.
ANINHA- Foi um príncipe todo dos bonito. Só que ele tem umas manias que eu num entendi. Ele num gosta de namorar sério, ele disse que hoje em dia o povo só fica.
DONA ESTELA- (INDIGNADA) Ficar? Ele quer usar você minha filha, não deixe que tratem você como latinha de refrigerante, enquanto está na mão é ótima, mas depois que mata a sede joga fora.
ANINHA- Usar eu? Mai eu sou moça de famia.
DONA ESTELA- Os jovens inventaram isso para ficar de sacanagem. Isso só pode ser coisa do demônio.
ANINHA- Sacanagem? Ai Jesus! Mai será que ele num ama eu?
DONA ESTELA- Pois é, com essa mania do ficar, o amor está entrando em extinção. Cuidado querida! (SAI PARA A COZINHA).
ANINHA- Será? Será que o príncipe tá fazendo de eu de latinha de refrigerante?
CARLINHOS- Falou Aninha?
ANINHA- Não, não, tchau! (SAI PARA OS QUARTOS)
NOSSA SENHORA- (ENTRANDO, VINDO DOS QUARTOS) Carlinhos, Carlinhos...
CARLINHOS- (SEM VÊ-LA) Quem me chama?
NOSSA SENHORA- (VOZ SUAVE, SEU MANTO COBRE O SEU ROSTO) Carlinhos, Carlinhos...
CARLINHOS- (COM MEDO) Será que é a morte?
NOSSA SENHORA- (IRRITADA GRITA) Ora essa, Carlinhos!!!
CARLINHOS- (DANDO DE CARA COM NOSSA SENHORA) Nossa senhora, é a senhora mesmo?
NOSSA SENHORA- Em, manto, véu e alma.
CARLINHOS- A que devo a honra?
NOSSA SENHORA- Vim cobrar uma promessa, Que você me fez à alguns dias atrás.
CARLINHOS- Mais por que a senhora está com o rosto coberto?
NOSSA SENHORA- Por que? Porque... porque... é moda, mania no espaço celeste.
CARLINHOS- (DESCONFIADO) Não sabia que as santas se ligavam em modas.
NOSSA SENHORA- Bem, vamos ao que interessa, e quanto a promessa?
CARLINHOS- Mais que promessa?
NOSSA SENHORA- Você prometeu a um honesto bandido, em meu nome, que levaria a sua namorada pra cama.
CARLINHOS- Claro, eu ia me esquecendo... vem cá, mas pecar contra a castidade não é pecado?
NOSSA SENHORA- (SURPRESA) Pecado? Meu filho, é a modernidade, tá tudo liberado, aqui e lá no espaço celeste.
CARLINHOS- (DESCONFIADO) Moda, modernidade, Estranho não?
NOSSA SENHORA- Meu filho, você vai cumprir a promessa ou não?
CARLINHOS- Sabe o que é dona santa? É que eu gosto demais da Rebeca, pra resumir tudo numa simples pegada.
NOSSA SENHORA- Mais você me deu a sua palavra.
CARLINHOS- É verdade. (PENSA) Já sei! Eu prometi leva-la pra cama, e isso não significa... é isso eu á levo pra cama, e ponho ela pra dormir.
NOSSA SENHORA- (IRRITADA) Olha aqui meu filho, deixa de ser mole, e pega logo a Rebeca de jeito!
CARLINHOS- (CADA VEZ MAIS DESCONFIADO) Uma santa falando assim? (PUXA O VÉU) Rebeca?!
REBECA- (ENVERGONHADA) Oi!
CARLINHOS- Você também era o ladrão?
REBECA- Pois é, eu ando muito criativa.
CARLINHOS- O que significa isso?
REBECA- (RETIRANDO A BECA) Carlinhos, namoro sem sacanagem não é namoro. (APROXIMANDO-SE DE CARLINHOS) Vem cá vem, meu gostosão. Vem me fazer feliz.
CARLINHOS- Rebeca, (FUGINDO DELA) as regrinhas do amor, vamos casar virgens, puros, imaculados lembra?
REBECA- Vem cá, vem meu Carlão! (AGARRA-O) Ai amor agora ou vai ou racha! (COMEÇA A BEIJA-LO).
CARLINHOS- Socorro, socorro!
MANU- (ENTRA VINDO DA RUA) Gente que loucura! Ai eu fico roxa, roxa.
CARLINHOS- (CONSEGUINDO SE SOLTAR) Ai Manu que bom que você chegou, acalma ai a Rebeca que eu vou tomar um copo de água acalma ai a Rebeca que eu vou tomar um copo de mento ). (SAI PARA A RUA).
REBECA- Manu minha irmã querida, você é a minha salvação.
MANU- Eu, por quê?
REBECA- É o Carlinhos, eu estou achando que ele é MENINA!
MANU- Ai eu tô roxa, roxa. E agora?
REBECA- Eu queria que você tenta-se seduzi-lo pra valer.
MANU- Seduzir o Carlinhos?
REBECA- Isso, é caso de vida ou morte.
MANU- Ai eu tô roxa, roxa.
REBECA- Temos que combinar tudo. (VER O ENVELOPE QUE MANU TRAZ CONSIGO) Que envelope é esse? São exames. Você está doente Manu?
MANU- (NERVOSA) Não... é que eu estava sentindo uns enjôos, umas tonturas, aí decidi fazer esse teste de gravidez.
REBECA- E aí?
MANU- E aí que deu positivo, eu estou gravida, e agora eu não sei o que fazer. Eu sei que tá na moda ficar grávida na adolescência, mas... depois eu penso nisso.
REBECA- Manu, se a mãe descobre isso ela te mata.
MANU- Nem me fala, eu fico roxa, roxa. (ESCULTAM RUIDOS)
REBECA - É o Carlinhos, ele deve está voltando, boa sorte. (SAI PARA OS QUARTOS, ENTRA CARLINHOS).
MANU - Oi Carlinhos, tudo bem?
CARLINHOS- (ENTRANDO) Mais ou menos, sabe a Rebeca não quer aceitar minha decisão de casar virgem. Você acha isso certo?
MANU- (JÁ AVANÇANDO) Ah! Carlinhos essa coisa de virgindade caiu de moda, e casar então, não tem mais nada a ver (TENTA BEIJA-LO, ELE RECUA).
CARLINHOS- Que mané moda, amor e virgindade não precisam de moda. É uma questão de atitude!
MANU- (TENTA SEDUZI-LO) Olha pra mim Carlinhos, fala o que você sente?
CARLINHOS- (APROXIMANDO-SE DELA) O que eu sinto?
MANU- É.
CARLINHOS- Sinceramente... Pena!
MANU- (DECEPCIONADA) Pena? Ai, eu fiquei roxa, roxa.
CARLINHOS- É porque você é tão oferecida, tão vulgar, que ninguém nunca vai querer namorar com você sério. Você nunca saberá o quanto o amor é lindo. Depois eu falo com a Rebeca.
REBECA- (ENTRA VINDO DOS QUARTOS) E aí Manu?
MANU- Só porque eu sou moderna, gosto de relacionamento doril, tomou, beijou a dor sumiu! Beijinho gostoso, amassadinha rápida, sem compromisso, só pra curtir. Só por isso ele quase acabou comigo, só não me chamou de santa. E olha que eu dei o maior mole pra ele. Ai chega eu fiquei roxa, roxa.
REBECA- Então você acha...
MANU- Eu não acho nada querida, eu tenho certeza. É um menininha, agora tenho que ir vou resolver um probleminha (SAI PARA A RUA).
REBECA- Será que ele é?
MIGUEL- (ENTRA VINDO DA RUA) E aí Rebeca, tudo em cima!
REBECA- (TRISTE) Tirando o fato que eu descobri que meu namorado é menina, tudo ótimo.
MIGUEL- Eu sempre desconfiei do Carlinhos. Nós nunca mais saímos juntos.
REBECA- Ah Miguelzinho, eu estava ocupada com o idiota do Carlinhos.
MIGUEL- Idiota? Você não amava ele?
REBECA- Claro que não. Eu só tinha atração por ele, de quem eu sempre gostei mesmo foi de você.
MIGUEL- Pensei que tivesse me esquecido. (ABRAÇA-A) Caiu na rede é peixe.
REBECA- Eu vou me arrumar pra gente sair (SAI PARA OS QUARTOS).
ZECA- (VINDO DOS QUARTOS COM ENVELOPE) Tô fe-fe-rrado ca-cara.
MIGUEL- O que aconteceu?
ZECA- (DESESPERADO) Eu fi-fiz o tes-tes-te do hiv.
MIGUEL- E aí?
ZECA- De-deu po-po-si-si-tivo. Eu es-es-tou com aids.
MIGUEL- Aids? Meu isso é o que da esquecer a camisinha, e agora?ZECA- Tô las-las-cado me-meu! É só es-es-perar a mo-morte che-che-gar (SAI PARA A COZINHA).
Miguel- Espera Zeca!
ANINHA- (VINDO DOS QUARTOS) Príncipe!
MIGUEL- Oi Aninha! Digo, Ana Tesão.
ANINHA- Mim rumei toda pra esperar ocê.
MIGUEL- Você tá muito gata!
ANINHA- Ai brigada! Eu fico toda muncionada, é que eu nunca pensei na vida de encontrar um príncipe.
MIGUEL- (APROXIMANDO-SE) É, mais encontrou. Eu sou mesmo demais.
ANINHA- (RECUANDO) Mai ocê ama eu de verdade?
MIGUEL- Claro, que amo gatinha. E você me ama?
ANINHA- Amo muito demais eu fiquei toas das modernas pra você, virei Ana dos tesão, até deixei ocê beijar eu. Ocê que nunca mais escreveu carta nenhuma pra minha pessoa!
MIGUEL- É que faltou inspiração. Mas, eu queria uma prova do seu amor.
ANINHA- Prova? Mai amor num se prova, se sente!
MIGUEL- (APROXIMANDO-SE) Vem me dar um beijinho vem.
ANINHA- (RECUANDO) Príncipe ocê me arreispeita, me arreispeita que eu sou moça de famia.
MIGUEL- Você vai me dizer um não?
ANINHA- Mai vô. Que amo você, mai amo muito mais a minha pessoa. E ocê quer usar eu, e quem usa não ama.
MIGUEL- Mais claro que amo.
ANINHA- Ocê pára! Pára porque se não eu grito!
MIGUEL-(CADA VEZ MAIS PRÓXIMO) Deixa de papo, e vem logo me dar um beijo (AGARRA-A).
ANINHA- Mim soita, socorro! Socorro!
MIGUEL- Caiu na rede é peixe. (PEGA-A NOS BRAÇOS, VAI SAINDO PARA RUA, CARLINHOS ENTRA LENDO).
ANINHA- Socorro Carlinhos, ajuda eu.
CARLINHOS- O que é isso Miguel? (SOLTA O LIVRO).
MIGUEL- Sai da minha frente mané!
CARLINHOS- Solta ela, solta ela agora!
MIGUEL- Por quê?
CARLINHOS- Porque eu estou mandando. Tá surdo?
MIGUEL- Resolveu virar macho de repente?
CARLINHOS- Não se compara um homem pela sacanagem e sim pelo caráter. Solta ela!
MIGUEL- Tudo bem! (SOLTA ELA, QUE CAI NO CHÃO).
ANINHA- Aí!
MIGUEL- E aí meu irmão vai encarar?
CARLINHOS- (ENFRENTANDO-O) Eu que pergunto, vai encarar mané?
MIGUEL- (EMPURRANDO-O) Tá maluco?
CARLINHOS- (SOQUEANDO ELE) Esse é pela Aninha! E esse é por mim mesmo!
ANINHA- Ai, Jesus!
CARLINHOS- (PARA ANINHA) Tudo bem com você?
ANINHA- Tudo. Ai, ocê é o meu herói! (ENTRAM TODOS EXCERTO MANU QUE ESTÁ NA RUA).
DONA ESTELA- Mais que gritaria foi essa? (ENTRA COM OS CARTAZES DA CAMPANHA).
ZECA- (AJUDANDO MIGUEL A SE LEVANTAR) Mi-Miguel!
REBECA- O que aconteceu aqui?
ANINHA- Aconteceu que meu príncipe virou sapo.
CARLINHOS- O canalha do Miguel estava querendo forçar a barra com a Aninha.
LUCAS- Forçar a barra como? (MANU ENTRA, VINDO DA RUA).
ANINHA- Queria tirar os cabimento, fazer os enxirimento. Mai eu sou moça de famia.
MANU- Prima! (ABRAÇA-A) Ai eu tô roxa, roxa.
BIA- E eu que pensei que você já estava prontinha.
KELLY- É minha filha, hoje em dia homem só pensa em sacanagem.
DONA ESTELA- Ô Aninha desculpa, eu devia ter prestado mais atenção em você. E você em seu Miguel, que vergonha até carta escreveu pra enganar a pobrezinha.
ZECA- Mãe foi eu que es-es-es-crevi a car-car-carta.
ANINHA- Ocê?
ZECA- Ma-ma-mais foi pa-para ou-outra pessoa.
DONA ESTELA- Pra quem foi então?
MIGUEL- Foi pra Bia.
BIA- Pra mim? Aí que legal, eu já tô prontinha.
MIGUEL- E você dona Estela, antes de me julgar deveria prestar mais atenção nos seus filhos.
DONA ESTELA- Mais o que é que tem meus anjinhos.
MIGUEL- (IRÔNICO) Só pra começar, o meu amiguinho Zeca está com aids.
TODOS- O quê?
ZECA- Mãe eu po-pos-so ex-ex-plicar, eu es-es-tava doi-doi-dão não deu pra...
DONA ESTELA- (CORTANDO) Pare por favor, me poupe dos seus detalhes sórdidos. Eu sei muito bem como se pega aids, só pode ser coisa do demônio. Ai, ai, eu vou morrer!
LUCAS- Que vergonha Zeca! Mais pior mesmo, é a Manu, que saiu com a rua inteira, Manu vuco, vuco. E ainda estão dizendo que ela está grávida.
DONA ESTELA- (CAINDO NOVAMENTE) Ai, eu não agüento, eu não agüento. Eu vou morrer, eu vou morrer.
MANU- (NERVOSA) Ai eu tô roxa, roxa. Mãezinha, não é bem assim, eu não saí com todos... o Júnior por exemplo ele tinha mau-hálito.
DONA ESTELA- Filha, você não está grávida está?
MANU- Estou. Quer dizer, estava... eu abortei.
TODOS- O QUÊ?
MANU- Eu não sabia o que fazer, eu estava com medo, eu não queria estragar minha vida.
DONA ESTELA- Estragada já está não é minha filha? E o pai já sabe da besteira que você fez?
MANU- (CONFUSA) O pai... bem, o pai... o pai... eu, eu não sei quem é o pai.
TODOS- O quê?
DONA ESTELA- Ai meu pai! (CAINDO) Dessa eu não escapo, eu vou morrer. Rebeca minha filha querida...
MANU- (CORTANDO-A) Querida? A Rebeca também não é flor que se cheire. Ela fez tudo pra levar o namoradinho, que queria casar virgem, pra cama, e ainda traia o coitado com o Miguel.
CARLINHOS- (SURPRESO) Rebeca isso é verdade?
ANINHA- Miguel, ocê e a prima?
MIGUEL- Caiu na rede é peixe!
DONA ESTELA- Filha, você traia o Carlinhos?
REBECA- Traia sim, e com muito gosto. Porque eu gosto é de homem de verdade.
CARLINHOS- Você disse que me amava.
REBECA- Amor, que coisa mais brega!
CARLINHOS- Desculpe, mas se você acha que amar alguém, faze-la feliz, respeita-la é ser brega, brega está sendo você, o amor nunca saiu e nem nunca saíra de moda. Só com o amor poderemos ser felizes.
REBECA- Mulher melhore, você quer que eu seja franca? Assume nega, assume linda!
ANINHA- Tadinho.
CARLINHOS- Mulher gosta de homem cachorro mesmo não é? Basta você respeita-la um pouquinho que já é gay. Eu sou homem e não preciso provar pra ninguém. Eu sei o que eu sou e isso basta! (SAI).
ZECA- Lu-lu-Lucas a-a-apro-pro-veita e con-con-ta pra mãe que vo-você anda traindo a Ke-kelly.
DONA ESTELA- O quê? Meu filho, você está de casamento marcado!
KELLY- Sogrinha essa afirmação é fato. Já pensei até em me matar ou virar bandida, meu filho quase que pegou depressão.
MANU- Ai eu fiquei roxa, roxa. Eu sempre achei vocês tão felizes.
LUCAS- Não é pra menos Kelly, você procura briga por qualquer coisa.
KELLY- Você acha qualquer coisa Pedro Lucas Jorge Afonso e Silva, eu ser corna? Eu não nasci pra ser chifrada meu bem. Mas se eu pego essa safada, desgraçada, sem futuro, moleca...
BIA- (CORTANDO) Êpa, moleca é o escambau!
REBECA- O que você tem a ver com isso Bia?
BIA- Eu?... Ai não tem jeito, eu vou falar a verdade. Eu sou, a... a... a...
KELLY- A moleca que está saindo com o Lucas.
BIA- Moleca não!
DONA ESTELA- Bia você? (SURPRESA)
BIA- Aí eu tinha medo de morrer sem beijar na boca, Se eu soubesse que o Zeca gostava de mim, eu já estava prontinha... mas aí o Lucas apareceu...
KELLY- Eu mato essa sem vergonha! (ELA BATE EM BIA).
BIA- Socorro! (REBECA E MANU TENTAM SEPARA-LAS).
DONA ESTELA- Aí eu vou morrer! (VAI CAIR MAIS LUCAS AMPARA) Minha hora chegou!
KELLY- Você não tem vergonha na cara? Você tem apenas quatorze anos, sua moleca.
BIA Me solta Rebeca, me solta que eu vou calar essa... MALUCA!
KELLY- (PARA BARRIGA) Calma filhinho, nós vamos lavar nossa honra. Eu vou dar uma lição nessa moleca. (PARTE PARA BIA, TODOS TENTAM APARTAR, PORÉM SÓ PIORAM A SITUAÇÃO).
DONA ESTELA- (GRITA) Chega! (TODOS PARAM) A que ponto vocês chegaram. Só pode ser coisa do demônio!
Homem como o Carlinhos está em extinção, um homem que sabe respeitar e valorizar uma mulher! Como o Miguel e o Lucas tem por toda parte, só querem aventuras, só querem usar meninas como a Bia, a Rebeca e a Manu, meninas que não sabem se dar o próprio valor. E não valorizam nem mesmo a própria honra. E também como a Kelly, que acha que ter um filho é como brincar de boneca. E também muitas como a Aninha que são iludidas por qualquer cantada barata... eu já estou cheia de tanta sacanagem... (SAI PARA OS QUARTOS).
ZECA- Es-es-pera mãe! (SAI COM DONA ESTELA).
MIGUEL- Espera Lucas, com quem você vai ficar afinal?
LUCAS- Com nenhuma das duas, esse negócio de compromisso, de ser pai não é pra mim. Fui! (SAI PARA A RUA).
KELLY- Lucas e o casamento? Eu não estou acreditando, eu vou ser mãe solteira, é isso? (PAUSA) Está vendo filho seu pai nos abandonou. Que vida triste vamos ter. Bem, eu já fui humilhada o suficiente. Eu vou arrumar minhas coisas. Eu não fico mais um minuto nessa casa (SAI PARA OS QUARTOS).
MANU- Coitada! Ai, eu fico roxa, roxa! (SAI COM KELLY).
REBECA- Chega de baixo astral, vamos dá uma volta Miguel!
MIGUEL- Demorou. Caiu na rede é peixe. (SAEM).
BIA- Eu também, já tô prontinha, não tenho mais nada o que fazer aqui. (RETIRA O AVENTAL E SAI).
ANINHA- Aí Jesus! Que pena, os casamento já era amanhã. E os bolo? Vai extruir tudo. Até pecado. Será que o amor num existe, será que o amor acabou? Será que só existe nas histórinha. (VÊ O LIVRO DE CARLINHOS) Mai um livro?
CARLINHOS- (ENTRA VINDO DA RUA) Oi, eu vim pegar meu livro, (RECEBE O LIVRO DE ANINHA).
ANINHA- Brigada Carlinhos, mais uma vez, ocê salvou minha vida, e minha honra também. Deus me livre! Eu ei de casar virgem.
CARLINHOS- Você também quer casar virgem?
ANINHA- Claro. Eu sou moça de famia!
CARLINHOS- Você conhece as regrinhas do amor?
ANINHA- Mai como num adevia de conhecer. Nos dois primeiro mês celinho...
CARLINHOS- No terceiro, beijo de língua...
ANINHA- No quarto abraço apertado...
CARLINHOS- No quinto, uns amasso...
ANINHA- No sexto noivado...
AMBOS- No oitavo casamento (RIEM).
CARLINHOS- Você, você, você... é minha alma gêmea.
ANINHA- Ocê, ocê, ocê... é meu príncipe.
CARLINHOS- Então o amor existe! (DÃO-SE AS MÃOS) Se todos acreditassem mais no amor, o mundo seria outro.
ANINHA- Carlinhos!
CARLINHOS- Aninha!
ANINHA- Carlinhos!
CARLINHOS- Aninha! (SE BEIJAM DELICADAMENTE).
NARRADOR- Quantos jovens como os que vocês acabaram de conhecer, não existem a nossa volta? Muitos sem rumo, sem direção, muitos pressionados a ter uma ativa vida sexual. Contudo, não se apaga o fogo jogando gasolina, por isso não basta simplesmente distribuir camisinhas, é necessário educar para o amor, para o respeito, para a formação de uma família. Só assim resgataremos valores que ficaram no passado, mas tão necessário no nosso presente, pois a vida é um jogo onde ganhamos e perdemos porém, é preciso saber viver!
(DURANTE A NARRAÇÃO APARECE APENAS A VOZ DO NARRADOR. NO MOMENTO EM QUE ELE FALA OS ATORES ENTRAM UM A UM).
E A VIDA CONTINUA...
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