Marcadores

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

a arvore dos mamulengos- adaptada

A ÁRVORE DOS MAMULENGOS
(Vital Santos)
ADAPTAÇÃO
POR DENILSON DAVID
ATO ÚNICO
PRÓLOGO
(Entram todos os atores com movimentos mecânicos imitando bonecos)
TODOS - Bom dia, respeitável público! Nossa troupe acaba de chegar, trazendo um trabalho quase honesto em matéria de teatro popular.
ATOR 1 - Bom dia, gente bonita! Povo bom e hospitaleiro vão desculpando o atraso que isso é próprio de brasileiro!
ATOR 2 - Já está pronto o titiriteiro, o espetáculo vai começar! Arrocha o dedo sanfoneiro pra tristeza não encostar.
ATOR 3 - Vamos meu nego! Rasga esse fole, que o samba não vai ser mole com a negada que aqui está.
ATOR 4 - Vocês vão rir de montão, com uma turma que adora discussão, intriga, amor proibido, ciúmes, está formada a confusão.
ATOR 5 - Marquesinha, João Redondo, Policarpo, Porrote, Rosita, e cabo fincão, são os sujeitos que compõe essa insana encenação.
ATOR 6 - Agora com vocês, um trecho do espetáculo a árvore dos mamulengos, um teatro de bonecos que será encenado por gente de carne e osso, pé e pescoço.
TODOS - Luz, som, ação, o espetáculo vai começar!
ABREM-SE AS CORTINAS
MARQUESINHA - Se essa rua, se essa rua, fosse minha eu mandava, eu mandava ladrilhar...
JOÃO REDONDO - (ENTRANDO) Oi Marquesinha!
MARQUESINHA - João Redondo!
JOÃO REDONDO - Como me dói em saber que não podemos ficar juntos!
MARQUESINHA - Não faz assim João Redondo, você sabe que eu sou obrigada a casar com o Cabo Fincão, de quem eu gosto mesmo é de você.
JOÃO REDONDO - Aquele velho conspira contra nós, mais nada, nada vai me fazer desistir de você. Eu te amo com toda minha alma!
MARQUESINHA - Ora João Redondo, não seja tão dramático ate parece que estamos no teatro!
JOÃO REDONDO - Marquesinha, eu tenho uma surpresa pra você! É um objeto de estimação foi da minha tataravó agora é seu.
MARQUESINHA - Meu João Redondo?
JOÃO REDONDO - Todinho! Lá vem o vei! Lá vem o vei!
MARQUESINHA - Lá vem o vei! Lá vem o vei!
JOÃO REDONDO - Olhe às 10 em ponto na árvore dos mamulengos, agora não vai fazer como ontem...
MARQUESINHA - E se o meu pai estiver acordado?
JOÃO REDONDO - Ah! Inventa qualquer coisa, que vai dá uma cagada! (SAI).
ENTRA POLICARPIO E CABO FINCÃO
POLICARPIO – Marquesinha, Marquesinha, menina.
MARQUESINHA – Pai o senhor por aqui!
POLICARPIO – Não é a Xuxa, num tá me vendo não é?
CABO FINCÃO – Como vai Marquesinha?
POLICARPIO – Responda menina!
MARQUESINHA – O que ele quer, pai?
CABO FINCÃO – Você gosta de circo?
MARQUESINHA – Gosto!
CABO FINCÃO – Você não que ir comigo? Dizem que o circo que está na cidade é ótimo.
POLICARPIO – Claro que quer né, filha!
MARQUESINHA – Depois.
CABO FINCÃO – Depois?
MARQUESINHA – Depois também não!
POLICARPIO – Essa menina, essa menina me mata! Cabo Fincão vamos lá em casa que eu tenho um vinho daquele.
MARQUESINHA – De que serve a gente nascer, crescer, se não pode ter a vida que sempre sonhou! (SENTE-SE MAL E DESMAIA)
PORROTE – (VÊ MARQUESINHA CAÍDA) Marquesinha, Marquesinha, Marquesinha coitada ela nem se mexe.
ROSITA – (ENTRANDO) Porrote meu amor. (VÊ A CENA E ESCONDE-SE) Ah cachorro da molesta, a desgraçado, quem é aquela cretina? Ah infeliz das costa oca você me paga, espere ainda! (SAI).
PORROTE – Marquesinha acorde! Ah meu Deus, não tem jeito não, o que eu faço... Essa foi muito boa, essa foi a melhor o jeito que tem é levar ela pra casa.
ROSITA – (ENTRANDO PELO LADO OPOSTO) Tenha vergonha cachorro safado, Oxênte pra onde foram fugiram? Ah se eu pego aquele traidor aquele conquistador barato, quebrava esse pau na cabeça dele pedacinho por pedacinho, eu deixo de ser mulher, eu deixo de vestir saia, se eu não castrar aquele bexiga preta. Oxênte o que é isso? Um colar, quem terá perdido? Ah quem me dera.
PORROTE – (VOLTANDO) Coitada da Marquesinha! (VÊ ROSITA COM O COLAR E ESCONDE-SE)
ROSITA – (SEM VÊ-LO) Ouro maciço... Isso deve ser uma fortuna!
PORROTE – Ah! Mas vejam só... Peguei a desgraçada com a mão na botija agora quero só vê o que ela vai dizer, quero só vê!
ROSITA – Quem não fica bonita com uma formosura dessas?
PORROTE – Quem será o vagabundo que lhe deu esse presente? Olha lá a bonita chega a sonhar pensando no sujeito. Quem terá sido esse individuo que cagou em cima da minha honra.
ROSITA – Como foi que isso veio parar aqui?
PORROTE – (AVANÇA E TOMA O COLAR DELA) Sim desgraçada, peguei em flagrante um presentinho não é?
ROSITA – Um, o quê?
PORROTE – Ora, um o que! Então eu lhe pego com a arma do crime na mão e você ainda pergunta um quê?... Com pouco vai me dizer que caiu do céu...
ROSITA – Tenha vergonha nessa cara, homem!
PORROTE – Vergonha? Ainda não só eu que ter vergonha!
ROSITA – Chega com essa conversa, cretino!Eu já tô por aqui, com suas enroladas. Tá pensando que eu não vi?
PORROTE – Ah! Quer dizer que você me viu, não foi?
ROSITA – Claro que vi! Tá pensando que sou cega? Eu vi tudo!
PORROTE – Ah! Então foi proposital? Só pra me humilhar, pra me desmoralizar? Você vai pagar caro por essa desonra! Vou lhe mostrar quem é Porrote Botelho Prego Torto! Vou quebrar-lhe todas as costelas. Vou torcer o seu pescoço filha do cão, arrancar-lhe os caroços dos olhos com uma faca, quebrar-lhe os dois braços e as duas pernas com esse pau, dar-lhe uma mãozada no pé-de-ouvido, do fucinho virar pra trás e tirar-lhe o coro viva! Só isso, só isso...
ROSITA – Vem murrinha, vem!... Vem pra você vê que é Rosita Rabo Quente Zeca Galo, natural de Cabedelo Estado da Paraíba! Vem que eu quero quebrar esse pau na tua cara!
PORROTE – E a desgraçada ainda me desafia! Eu vou tomar esse pau e arrebenta-lo na suas venta.
ROSITA – Vem! Vem conquistador barato! Vem pra eu lhe mostrar com quantos paus se faz uma canoa!
PORROTE – Você está pensando que eu estou brincando? (PARTE PRA CIMA DELA) Agora me vingo!...
ROSITA – (METE-LHE O PORROTE) Tome! Tome seu imprestável! Tome mais! (ELE REAGE. ELA SAI CORRENDO COM MEDO) Socorro!...
PORROTE – Espere... Espere aí, condenada! Chegar em casa você me paga, ouviu? Vai pagar e é dobrado! Confie nessas mulheres, confie! Vagabunda! Prostituta! Me traindo por uma porcaria dessa... (MOSTRA O COLAR) Vê mesmo, hum! Se pelo menos fosse uma jóia preciosa, mas não. Ah! Tarada sem vergonha! (COM RAIVA) Mas também tem uma coisa, se eu pegar esse sujeito... Não quero nem pensar o que vai acontecer!
JOÃO REDONDO – (ENTRANDO NA PONTA DO PÉ) Já tá quase na hora, será que ela já... (VÊ PORROTE) Oxênte... Tem alguém lá...
PORROTE – (OLHANDO O COLAR) Eis o preço da minha honra.
JOÃO REDONDO – (ESCONDIDO) O colar!... O que é que esse tinhoso tá fazendo com ele aí?
PORROTE – Coitado de mim. Que sorte cotó, traído por um pedaço de lata velha.
JOÃO REDONDO – (PENSATIVO) Eu dei ele hoje a Marquesinha...
PORROTE – O que é que o povo vai dizer. O que vão pensar de mim... Ah! Meu Deus estou acabado, destruído, desmoralizado!...
JOÃO REDONDO – (IDEM) Será que ela...
PORROTE – Por onde eu passar agora, eles vão apontar, é aquele o corno da MAISA. Que sina desgraçada essa minha. Se não gostasse tanto daquela...
JOÃO REDONDO -... Não, eu não posso imaginar uma coisa dessa Marquesinha. Êpa! Esse pau tem formiga, não tô gostando nada disso. (VAI A ELE) Boa Noite.
PORROTE – (IRRITADO) Só se for pra você!
JOÃO REDONDO – (À PARTE) Que tipo esquisito...
PORROTE – O que foi que o senhor falou?
JOÃO REDONDO – Nada! Eu disse que esse colar é bonito.
PORROTE – Você acha é?
JOÃO REDONDO – Bem quer dizer... É do senhor?... Digo da sua mulher?
PORROTE – (AFOBADO) Pronto! Já começou. Esse colar meu amigo foi... (SUSPEITANDO) Ah!... Agora estou entendendo tudo, você chegou atrasado ao encontro, ela já foi embora.
JOÃO REDONDO – Ela quem?
PORROTE – A vagabunda que você deu esse maldito colar!
JOÃO REDONDO – Esse colar eu dei a minha... (DESCONFIADO) Quem é o senhor?
PORROTE – Eu sou há muito tempo, amante da sua... Da miserável que você deu essa bosta desse colar! Há muito que eu ando desconfiado do seu chameguinho com ela, ouviu? Mas finalmente descobri! Peguei o pato com o bico n´água! E sabe o que eu vou fazer?!... Vou chamar o Cabo Fincão, pra meter os dois na cadeia! (SAI).
JOÃO REDONDO – (ARRASADO) É incrível! É inacreditável... Ela podia enganar todo mundo menos eu.
ROSITA – (ENTRA FURIOSA) Olha lá, o desgraçado... O bexiguento na certa marcou encontro com outra. Ah! Infeliz, você agora me paga... (VAI SE APROXIMANDO)
JOÃO REDONDO – É como se esse teto tivesse caído em cima de mim. É como se eu tirasse o meu chapéu e alguém me acertasse traiçoeiramente uma paulada na minha cabeça, me mandando pra o inferno!... (ROSITA METE-LHE O PAU NA CABEÇA).
ROSITA – Tome condenado! Pra você nunca mais... (JOÃO REDONDO CAI DESMAIADO) Meu Deus do céu! Matei o homem errado! Ele tá mais frio do que bunda de anjo! Por nossa senhora, moço, responda, o senhor morreu? Coitadinho nem se mexe... Que situação meu Deus. Tudo por causa daquele excomungado!...
PORROTE – (VOLTANDO) Onde danado esse cabo se meteu... (VÊ ROSITA COM ELE NO COLO) Não!... Não, eu estou sofrendo da vista! Estou tendo visões! Sim, eu estou louco, isso não pode ser verdade!... É ilusão de ótica! Eu enlouqueci...
ROSITA – Meu Deus do céu, o que foi que eu fiz. Oh Diabo!...
JOÃO REDONDO – (LEVANTA ATORDOADO) O diabo!... Onde é que ele tá? Eu quero falar com ele. (SAI)
MARQUESINHA – João Redondo, ei João Redondo, psiu João Redondo. Meu Deus o que foi que deu nele. O que foi que deu no João Redondo seu Porrote?
PORROTE – (VOLTANDO A SI) Ah! Então esse é o nome daquele cachorro da gota, é?
MARQUESINHA – Por quê?
PORROTE – Porque ele arruinou a minha vida destruiu o meu lar, peguei aquele desgraçado nos braços da minha mulher.
MARQUESINHA – Quando?
PORROTE – Agora a pouco.
MARQUESINHA – Tem certeza?
PORROTE – Claro! Vi com os meus próprios olhos a muito que eu ando desconfiado. Mas só hoje pude ter a certeza. Quando vi os dois abraços trocando juras de amor.
MARQUESINHA – Que dizer que ele e dona Rosita.
PORROTE - São amantes.
MARQUESINHA – Logo vi, foi por isso que ele nem me ligou, meu pai tem razão quando diz que todos os homens são cachorros. Eu imagino como você deve está sofrendo seu Porrote...
PORROTE – Ah! Marquesinha não queira nem pensar. E o pior é que eu gosto daquela desgraçada.
MARQUESINHA – Este mundo velho está fedido, a humanidade está podre. (SENTE-SE MAL NOVAMENTE) Ai, ai.
PORROTE – (SEGURA ELA NOS BRAÇOS) Marquesinha... Está se sentido mal? O que foi?
CABO FINCÃO ENTRA COM ROSITA
ROSITA – É logo ali, Cabo Fincão! Na Árvore dos Mamulengos!
CABO FINCÃO – E será que ele ainda está lá?
ROSITA – Deve está!
CABO FINCÃO – Então vamos lá, isso deve ser uma cachorrada dos diabos. Marquesinha não, não é possível isso é demais pra mim... Meu Deus que vergonha que humilhação essas coisas só acontecem comigo. Eu sou corno, eu sou corno, eu sou corno. Não tenho mais cara, estou destruído, acabaram comigo... (SAI)
ROSITA – A filha do Policarpo, a mocinha safada, a uma espingarda boa aqui pra arrancar a cabeça dos dois.
PORROTE – Melhorou Marquesinha?
MARQUESINHA – Estou melhor seu Porrote, desculpe ter-te incomodando.
PORROTE – Ora Marquesinha, o que é isso.
JOÃO REDONDO – (ENTRA CORRENDO PARA ROSITA) O que aconteceu com o Cabo Fincão, ele saiu correndo desembestado de rua abaixo.
PORROTE – Vamos embora Marquesinha, eu acompanho você ate em casa.
ROSITA – Um momento.
MARQUESINHA – João Redondo! Hum!
JOÃO REDONDO – Você Marquesinha!
PORROTE – E você ainda tem coragem de aparecer na minha vista?
ROSITA – Será que você não está vendo que essa palhaçada não tem mais graça. Porque não me disse logo?
PORROTE – Dizer o quê?
ROSITA – Que estava de chamego com essa cínica. (APONTA).
PORROTE – Dobre essa língua nojenta, ou você tá pensando porque está com esse sujeito não leva uma mãozada.
ROSITA – Eu sei lá esse cara de mamão macho!
PORROTE – Ah! Sabe não é? E de quem é isso daqui?
MARQUESINHA – É meu!... Foi o João Redondo que me deu!
JOÃO REDONDO – Marquesinha, como esse colar caiu nas mãos dele?
PORROTE – Pergunte a ela!
ROSITA – Bem... Eu achei por acaso, estava logo ali na árvore dos mamulengos.
MARQUESINHA – Pois é, foi justamente ali que eu me senti mal e seu Porrote me levou pra casa.
PORROTE – Quer dizer que este colar...
JOÃO REDONDO – É da Marquesinha!
ROSITA – Então naquela hora...
PORROTE – Ela estava desmaiada!
MARQUESINHA – Foi...
ROSITA – Então...
PORROTE – É...
JOÃO REDONDO – Ah!... (TODOS RIEM).
PORROTE – Ah! Finalmente tudo não passou de um mal entendido. Desculpe rosinha, eu sei que fui...
ROSITA – Não adianta Porrote! Isso é uma doença. Você nunca vai acabar com essa mania de ciúme e desconfiança...
PORROTE – E se eu prometer?
ROSITA – De que serve! Sempre não cumpre, por qualquer coisinha vem logo...
DUBLAGEM DA MÚSICA “NÃO SE VÁ”
PORROTE– Não Rosinha agora vai ser diferente... Eu vou ligar um presente você vai ficar contente disso eu tenho certeza.
ROSITA – Porrote um presente, oba, oba, oba, oba que beleza. Eu adoro surpresa, Porrote que maravilha o que é isso que tanto brilha? É uma jóia com certeza!
PORROTE – Feche os olhos minha Rosita pra surpresa ser maior! (COLOCA NO PESCOÇO DELA). Oh! Como ficou bonita de cólera no gogó!... Agora estou tranqüilo acabou-se isso e aquilo você será minha só! (SAI PUXANDO-A).
MARQUESINHA – (RINDO) Graças a Deus tudo voltou ao normal. Ah! João Redondo eu imaginei cada coisa...
JOÃO REDONDO – Não Marquesinha, você esquece que tem o cabo fincão pela frente.
MARQUESINHA – Ah! Mais isso é outra coisa João Redondo.
JOÃO REDONDO – Não adianta insistir, Marquesinha, nós nunca seremos nada, nunca passaremos de personagens de histórias lendárias.
MARQUESINHA – Mas João Redondo...
POLICARPIO – Marquesinha, Marquesinha! Aconteceu uma grande desgraça, minha filha! Uma tragédia!
MARQUESINHA – O que foi pai?
POLICARPIO – O cabo Fincão fugiu! Desapareceu!... Verdade minha filha, foi embora sem dizer nem pra onde ia, levou tudo que era dele, só deixou mesmo isso daqui para lhe entregar. João Redondo! O cabo fincão ele se foi!
JOÃO REDONDO – Marquesinha! Agora poderemos ser felizes!
POLICARPIO – Eu mereço!
MARQUESINHA – João Redondo!
JOÃO REDONDO – Marquesinha!
MARQUESINHA E JOÃO REDONDO ENTREOLHAM-SE E ABRAÇAM-SE.
Marquesinha canta: “XOTE DE MENINA”