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sábado, 17 de novembro de 2012


OTELO, PRESIDENTE DO BRASIL

Ideia de Texto- Adriel Eduardo, Carlos Alberto,  Nathália Christine, Miledja Lurian, Iasmim Cavalcante e Denilson David.

TEXTO- DENILSON DAVID

Personagens
Otelo- Presidente eleito
Brabâncio - Candidato da oposição
Desdemona- Filha de Brabâncio, Noiva de Otelo.
Iago - Secretário do presidente
Emília- mulher de Iago
Cássio - Deputado, indicado a chefe da casa civil.
ATO único
Brasília, capital do Brasil. Casa de Iago. Emília e Iago conversam.
EMÍLIA- Iago, Calma meu amor, Não há mais nada a fazer a decisão já foi tomada!
IAGO - Calma? Eu acabo de sofrer a maior das injustiças e você me pede calma?
EMÍLIA- Infelizmente já está decidido nos próximos dias o Otelo deve anunciar os nomes dos ministros e também o nome do chefe da casa civil.
IAGO - Ele simplesmente ignorou todo o esforço que fiz até aqui. O quanto me dediquei nos últimos anos nessa luta rumo à presidência, e agora que ele venceu simplesmente me deixa de fora da festa. Muitas pessoas, de grande influência do partido, falaram por mim, das minhas qualidades e competência para assumir a posição de chefe da casa civil, e modéstia à parte eu sou o maior merecedor desse cargo. Ele, no entanto, consultando somente o orgulho e os próprios interesses desconsiderou todos os argumentos possíveis e simplesmente disse: minha decisão já foi tomada. E quem ele escolheu? Um deputado de merda, que nunca fez grandes coisas pela história desse país. Esse Cássio nunca fez nada para desfrutar da nossa vitória. E quanto a mim? Vou continuar sendo o simples secretário do presidente Otelo!
EMÍLIA - Eu sei o quanto essa decisão foi injusta Iago, mas só nos resta aceitar, há sua hora vai chegar meu amor.
IAGO - É por isso que esse país não evolui, essa gente não sabe fazer as escolhas certas, a começar pelo presidente da republica que escolhe gente desqualificada para formar sua equipe de trabalho. Depois reclamam que os projetos não saem do papel. Quem merece estar no poder e tem qualidades para isso não tem oportunidade, justo eu que tanto fiz não mereço passar os próximos quatro anos sendo capacho daquele negro infeliz. 
EMÍLIA - Não fale assim do Presidente Otelo, Iago! Já pedi que se acalmasse. Saia um pouco se distraia, vai te fazer bem. Agora eu tenho que ir, marquei de Sair com a Desdêmona. Volto antes do jantar!(beija-o e sai).
IAGO- (pegando uma foto de campanha do presidente) Eu não suporto o Senhor, presidente Otelo! (rasgando a foto) todo o meu esforço não foi em nome de droga de amizade nenhuma e muito menos por alguma admiração política, como fiz você acreditar babaca. Eu deveria ser o indicado para assumir a casa civil, eu! Mas você não perde por esperar, eu não sou o que sou. (pausa) Não eu não posso ter nadado, nadado para morrer na praia. (pega o celular e liga para Brabâncio). Alô!
BRABÂNCIO – (o telefone toca) Número desconhecido? Deve ser algum jornalistazinho... Pois não!
IAGO - Olá meu Caro Brabâncio! 
BRABÂNCIO - Quem fala?
IAGO - o que importa não é quem está falando, mas o que eu irei lhe revelar!
BRABÂNCIO - Olha aqui meu senhor...
IAGO - (cortando-o) Cala a boca e me escuta... É sobre a sua filha!
BRABÂNCIO - O que tem a minha filha?
IAGO - A notícia não é muito boa, sinto em lhe desapontar. 
BRABÂNCIO - Fale de uma vez...
IAGO - O fato Brabâncio, é que além de você ter perdido a disputa eleitoral, terá que lidar agora com uma traição...
BRABÂNCIO - Do que você esta falando?
IAGO - A sua filha lhe apunhalou pelas costas. Ela noivou em segredo e sem nem ao menos te consultar.
BRABÂNCIO - A Desdêmona noiva? Mais de quem meu santo Deus?
IAGO - Do Negro Otelo, o presidente eleito, seu principal inimigo político.
BRABÂNCIO - Isso só pode ser piada! Desdêmona e Otelo? Impossível!
IAGO - Piada é você ser passado para trás duas vezes para aquele negrinho. Passar bem! (desliga).
BRABÂNCIO - Isso não pode ser verdade...
IAGO - A guerra começou Senhor Otelo, presidente do Brasil! (Sai)
 BRABÂNCIO - Desdêmona não seria capaz de me desapontar tanto, ela tinha me jurado que aquele namorico tinha sido coisa do passado. Eu mato aquele negro!
DESDÊMONA- (Entrando) Bom dia! (beija-o no rosto. sem resposta) Pai, eu queria Saber a respeito... Que cara é essa?
BRABÂNCIO - Minha filha me diga que o acabei de ouvir é mentira.
DESDÊMONA - Mas o que o senhor ouviu que te deixou assim?
BRABÂNCIO - Você continua se encontrando com aquele canalha?
DESDÊMONA - Olha pai, eu iria conversar com você quando passasse a campanha, mas...
BRABÂNCIO- A campanha acabou faz mais de dois meses... Você me prometeu que não tinha mais nada com aquele negrinho...
DESDÊMONA- Pai...
BRABÂNCIO- Não me diga que você realmente noivou com ele as escondidas? Com um negro?
DESDÊMONA - Pai, Eu amo o Otelo mais que tudo nessa vida. E é verdade, Nós estamos noivos! Eu não poderia deixar de viver um amor por conta de sua briga política e muitos menos pelos seus preconceitos. Eu não queria que fosse assim, eu também te amo muito meu pai...
BRABÂNCIO- Não me chame mais de pai... Você sabe o quanto aquele homem tentou me destruir com aquelas acusações de corrupção, e ainda assim decide casar com ele...
DESDÊMONA - Eu...
 BRABÂNCIO- (cortando-a) A conversa está encerrada. (Desdêmona sai).
BRABÂNCIO- Preciso falar com aquele calhorda (sai).
Granja do Torto, uma das residências oficiais da Presidência da República. Escritório. Otelo está em cena, examinado alguns papéis.
 IAGO - Mandou me chamar senhor presidente?
OTELO - Sim Iago. Precisamos nos programar para a coletiva de impressa afinal todos estão curiosos para saber o nome dos futuros ministros…
IAGO – É verdade senhor Otelo, todas as emissoras de canais abertos já confirmaram presença, estarão presentes também vários colunistas de importantes jornais do país…
OTELO – (interrompendo-o) Engraçado…
IAGO – Do que o senhor está falando?
OTELO – A minha vida toda eu sonhei com esse momento e nos últimos anos eu lutei muito para chegar até aqui.
IAGO – Mas o senhor conseguiu, e quando assumir será o homem mais influente da América latina. O primeiro presidente negro do Brasil. O senhor está escrevendo um importante capítulo da história desse país.
OTELO – Às vezes pareço estar vivendo um sonho, sem falar que finalmente eu e Desdêmona estamos numa ótima fase… Iago eu proponho um brinde. (servindo-se de uma taça de vinho).
IAGO- (também se servindo do vinho) Mas ao que brindaremos?
OTELO- Ao futuro! (brindam).
IAGO – Ao futuro e as surpresas por ele reservadas!
 CÁSSIO – (entrando) com sua licença senhores, fui avisado de que poderia entrar...
OTELO – Claro, junte-se a nós!
CÁSSIO – Iam começar a festa sem me convidar?
OTELO- Estamos apenas no começo.
CÁSSIO- Literalmente no começo. No começo de uma grande jornada. (servindo-se) Um brinde a vida!
OTELO- Estamos próximos de assumirmos o mandado e temos que estar preparados para todos os acontecimentos que estão por vim... (ouve-se um barulho vindo de fora) mas o que diabos está acontecendo?
(BRABÂNCIO - Invade a sala)
BRABÂNCIO- Então ai está você seu pilantra!
OTELO - Como te deixaram entrar aqui?
IAGO- Eu vou chamar os seguranças!
OTELO – Não Iago, pode deixar. Eu preciso mesmo falar com o Brabâncio.
BRABÂNCIO – Não basta ter acabado com a minha carreira política com aquelas difamações improvável, ser meu principal oponente na corrida presidencial, você ainda quis me roubar àquilo que eu tinha de mais sagrado! Precisava roubar a minha filha?
OTELO- Acalma-se senhor Brabâncio...
BRABÂNCIO- Me acalmar? Eu deveria acabar com a sua vida agora mesmo!
OTELO- Eu amo a sua filha...
BRABÂNCIO- Depois que rompemos a nossa relação política você sabe o quanto eu era contra aquele namorico de vocês, e a própria Desdêmona me jurou que ia se afastar de você. E agora recebo um telefonema me falando do noivado de vocês, e tudo isso pelas minhas costas?
OTELO- Telefonema? Mas como?
BRABÂNCIO – Isso agora não importa, o fato é que eu vim aqui só para olhar nos olhos e dizer que você conseguiu me derrotar, você acabou com a minha família...
OTELO- A sua filha...
BRABÂNCIO- Eu não tenho mais filha, ela escolheu ser a sua mulher, que assim seja! (vai saindo e recua) Só mais uma coisa... Cuidado senhor presidente! Assim como ela enganou a mim, que sou seu pai pode muito bem enganar ao senhor que é apenas seu noivo. (Sai)
IAGO- Definitivamente o senhor BRABÂNCIO ficou maluco.
CÁSSIO- Ele tem as suas razões Otelo, não leve em conta as coisas que ele falou, Afinal de contas ele descobriu que a filha dele decidiu se unir ao seu maior inimigo.
OTELO- Mais cedo ou mais tarde, isso ia acontecer. Eu preciso falar com Desdêmona. (sai)
CÁSSIO– Coitada da Desdêmona.
IAGO - Você e a senhorita Desdêmona são amigos há bastante tempo não é mesmo Cássio?
CÁSSIO– Sim nós fizemos faculdade juntos e eu sempre apoiei muito o romance dos dois, chego até me sentir um pouco culpado com tudo isso.
IAGO – Não se sinta. Não podemos ir de encontro aos caminhos que a vida traça para cada um de nós. Que tal tomarmos um bom uísque e esfriarmos a cabeça?
CÁSSIO- Acho uma boa ideia, estou mesmo precisando. (saem)
APARTAMENTO DE DESDÊMONA -(entra Otelo)
DESDÊMONA –(aos prantos) Meu amor ainda bem que você chegou, eu estou arrasada, meu pai ele...
OTELO - Calma meu anjo, não diga nada! Eu sei o quanto deve estar sendo difícil pra você...
DESDÊMONA- Eu sei o quanto ele te odeia depois de todo aquele escândalo de corrupção, depois das denuncias que você fez, eu entendo as razões dele, não foi nada agradável para mim, ficar dividida entre o homem que eu amo e meu pai... Mas eu preferi ficar de fora de toda aquela situação, ele deveria me entender um pouco...
OTELO- Não mandamos no nosso coração Desdêmona. O fato é que independente de qualquer coisa eu te amo e sempre te amarei, nunca esqueça isso. (beijo)
DESDÊMONA- Como eu queria que tudo fosse apenas um pesadelo.
OTELO– Olha Desdêmona, se você quiser desistir do noivado em nome da sua família, do seu pai...
DESDÊMONA- Nunca mais repita isso, você também é a minha família, um dia meu pai vai entender, quando toda essa poeira baixar ele vai reconhecer que nada do que estamos vivendo foi para atingi-lo, ele vai entender que nos amamos de verdade.
OTELO- Eu só espero que ele não reconheça tarde de mais...
DESDÊMONA- Não fale bobagem meu amor! Me abraça, me abraça forte!
OTELO- Agora vem comigo, você precisa descansar um pouco. (Saem)
RESTAURANTE - Iago e Cássio bebem
CÁSSIO – (meio embriagado) Essa é a ultima em Iago, eu não posso beber tanto assim, eu sou um homem público, eu sou o próximo chefe da casa civil.
IAGO - De forma merecida você ganhou esse cargo, agora tem que comemorar.
CÁSSIO – Enquanto Otelo resolve sérios problemas com a mulher a gente ficar aqui enchendo a cara isso não está certo.
IAGO – Otelo é Um cara muito inteligente saberá sair dessa fácil, fácil. E por falar na mulher dele, que bela noiva ele arrumou hein?!
CÁSSIO – Ela é sim, muito, muito... Admirável.
IAGO - E que olhos tem! Me parece mais  um convite para o assalto.
CÁSSIO - É, de fato, a perfeição em pessoa.
IAGO – (o telefone toca) só um instante, preciso atender essa ligação é de extrema importância, já volto! (sai)
CÁSSIO - Não vá demorar, eu preciso ir embora. (toma mais uma dose de uísque).
(entra um travestir)
IAGO - O moço é aquele, faça o serviço que combinamos e receberá a outra parte. (entregando uma quantia em dinheiro) Faça o que combinamos e deixe o resto por minha conta. (sai)
TRAVESTIR- (aproximando-se de Cássio) Boa noite meu senhor!
CÁSSIO – Ei, você não é o Iago.
TRAVESTIR– Essa noite eu posso ser quem você quiser...
CÁSSIO – Eu não estou entendendo, quem é você?
TRAVESTIR– vamos para um lugar mais reservado que eu te mostro. (puxa-o pela gravata, saem).
GRANJA DO TORTO. ESCRITÓRIO.
IAGO- (com um jornal em mãos, lendo) Suposto futuro chefe da casa Civil é flagrado em cenas intimas com um travestir. (rir) Por essa meu Caro Otelo não esperava.
(Entram Otelo e Desdêmona)
OTELO – Isso não pode estar acontecendo, eu nem bem assumi e já querem escandalizar o meu governo.
DESDÊMONA- Calmo Otelo, isso pode ser um mal entendido.
IAGO – Bom dia senhor Otelo! Como vai dona Desdêmona? Olha, eu também acabei de ver nos jornais, está em tudo que é site na internet, eu não sei nem o que dizer.
OTELO – Mais já eu sei muito bem o que dizer, eu preciso falar com o Cássio imediatamente.
DESDÊMONA- Eu já liguei pra ele quando estávamos no caminho, ele deve estar chegando não vá agir de cabeça quente meu amor.
(entra Cássio)
OTELO – Então Cássio o que tem a dizer a respeito do assunto mais falado do momento?
CÁSSIO - Só peço que me perdoe Aquilo não passou de um mal entendido, eu...
OTELO – (interrompendo-o) Você quer me desmoralizar é isso?
CÁSSIO- Não senhor eu confesso que me excedi um pouco e que não devia...
OTELO – Eu que não devia ter confiado em você para ser o principal nome do meu governo, considere-se destituído do cargo de chefe da casa civil.
CÁSSIO – Mas Otelo...
OTELO - Minha decisão está tomada, não posso manchar a imagem do meu governo com a sua falta de postura. (sai)
DESDÊMONA- (olha triste para Cássio) Otelo... (sai)
IAGO - Se eu não tivesse deixado você sozinho lá, talvez eu... Mas eu tive que atender o chamado da minha mulher, a Emília estava passando mal...
CÁSSIO – A culpa é toda minha Iago. Eu fui um moleque.
IAGO – Ainda não é o fim Cássio!
CÁSSIO – Claro que é. O que resta agora? O pior de tudo eu decepcionei Otelo, ele havia depositado toda confiança em mim.
IAGO – Você não pode ficar se recriminando agora Cássio, o que você deve fazer é tentar recuperar o que perdeu.
CÁSSIO – Ele nunca iria me ouvir.
IAGO – A você não, mas seria bem capaz de ouvir Desdêmona. Converse com ela, diga que foi deslize seu e que você poderia até mesmo se retratar em rede nacional. Em nome da amizade de vocês ela fará o que puder, e ele não irá ignorá-la. 
CÁSSIO - Você tem razão Iago, talvez seja uma boa ideia. Assim que tiver uma oportunidade falarei com ela, agora é melhor eu ir vou tentar evitar maiores estragos. (Sai.)
IAGO - Parabéns senhor Iago, seus planos estão saindo melhor do que o esperado mais ainda está longe da grande peripécia. (sai)
RESTAURANTE
EMÍLIA- Tudo o que você está me contando, na verdade é muito grave, o Iago não contou com tantos detalhes. O pior é que tudo resolveu acontecer ao mesmo tempo não bastasse todo esse caso com seu pai ainda tem as últimas atitudes de Cássio.
DESDÊMONA – Nem me fale amiga, ele realmente traiu a confiança que Otelo depositou nele, afinal, ele tinha confiado um cargo de extrema responsabilidade para Cássio e que requer no mínimo uma postura decente.
EMÍLIA – É verdade, mas o Iago se comoveu tanto com isso, como se tivesse acontecido com ele o caso, ele pediu para que eu te pedisse que intercedesse por Cássio.
DESDÊMONA – Ai Emília, eu sei da competência do Cássio, até agora também não entendo o que levou a cometer tamanho desatino, ele vive rodeado de mulheres, ele pode escolher a que desejar, acho até que só não casou devido essa vida de mulherengo.  O que deu nele agora para sair com um travestir? É demais pra mim. É natural que se torne um escândalo.
EMÍLIA- Menina, por falar nele olha quem vem ali… o próprio.
CÁSSIO - Desculpe interromper a conversar de vocês, mas eu precisava muito falar com você Desdêmona.
DESDÊMONA – Oh amigo! Como eu estou perplexa com tudo isso. Mas que coincidência encontra-lo aqui.
CÁSSIO – Na verdade, não foi coincidência, o Iago me falou que vocês estavam aqui. Olha, eu sei que não ameniza o escândalo causado, mas eu não tive nada com aquele travestir. Quando eu percebi do que se tratava, tratei logo de sair daquela situação, só não a tempo de ser fotografado por algum bisbilhoteiro.
DESDÊMONA – Eu entendo.
EMÍLIA- Essa imprensa sensacionalista não perde um furo.
Cássio- Eu não sei nem como te pedir isso Desdêmona, mas se fosse possível, gostaria muito que falasse com Otelo por mim, eu sei o quanto ele ouve os seus conselhos. Peça que reconsidere se possível eu até daria uma declaração publica…
DESDÊMONA- Claro Cássio, eu prometo fazer o que estiver ao meu alcance!
CÁSSIO- Só não diga que eu vim te pedir isso, talvez provocasse ainda mais a raiva dele.
DESDÊMONA- Claro, pode deixar, até por que a Emília me havia pedido em nome de Iago para fazer o mesmo.
EMÍLIA- Amiga, eu acho que aqueles são os nossos maridos.
CÁSSIO- Bem, eu vou indo. Muito obrigado DESDÊMONA!(sai)
(Entram Iago e Otelo e se conservam a distância.)
IAGO - Isso não é bom!
OTELO – O que disse?
IAGO – Nada não, esquece.
OTELO - Não era Cássio que estava a conversar com Desdêmona?
IAGO - Cássio, senhor? Será? Se era ele o porquê de sair com tanta pressa?
OTELO - Creio que era ele. (aproximando-se) aquele que saiu daqui era Cássio?
DESDÊMONA – O Cássio? Onde? Aqui? Não, não o vi. Você o viu amiga?
EMÍLIA- Não. Será que ele passou e não o vimos?
OTELO – Devo ter me enganado.
DESDÊMONA – Mas já que tocou no assunto, meu amor, não acha que exagerou um pouco com ele?
OTELO – Como assim?
DESDÊMONA – Ah Otelo, quando você o convidou para um cargo tão importante, fez isso pensando em toda a sua competência, não é justo que por um simples deslize tudo seja apagado.
OTELO – Ele colocou meu governo de forma negativa na boca do povo, em todos os noticiários estão falando do futuro suposto chefe da casa civil.
DESDÊMONA – Daqui a pouco todo mundo esquece, sem falar que ele pode dar uma declaração publica e esclarecer o que houve.
OTELO – Eu não sei meu anjo…
DESDÊMONA – Promete pensar?
OTELO – Prometo.
DESDÊMONA – Você jura?
OTELO – Sim juro. Agora não toque mais nesse assunto.
DESDÊMONA- Tudo bem. Agora eu vou indo, vou da uma passada na casa da Emília.
Emília- Vamos então. (Saem)
 OTELO – (sentando-se) Ai, ai, A Desdêmona sempre com a mania de querer ajuda todo mundo, protetora dos pobres e oprimidos, que coração grande ela tem...
IAGO – (também sentando) Senhor Otelo...
OTELO - Pode dizer Iago?
 IAGO – Por acaso Cássio Sempre soube do romance de vocês?
OTELO - Desde o início, ele foi o nosso maior cupido. Por que a pergunta?
IAGO – É que eu estive pensando... Não deixa pra lá.
OTELO – O que você esta pensando Iago?
IAGO - Por tudo o que sei dele, Eu... Antes eu quero dizer que admiro muito Cássio como um homem da política que ele é hoje.
OTELO – Faço minhas as suas palavras, mas aonde você quer chegar?
IAGO - Deveriam os homens ser somente o que parecem, ou então não parecer o que não fossem.
OTELO - Sim, deveriam ser o que parecem.
IAGO – Uma boa reputação, caro senhor, para a mulher e o homem é a melhor joia da alma, principalmente esse homem sendo uma figura política.
OTELO - Pelos céus, quero saber o que você está pensando.
IAGO – O ciúme é o mal que atrapalhar e até destrói uma relação. A confiança é o princípio para um bom relacionamento.
OTELO - Por quê? Por que tudo isso? Eu não terei motivos para ter ciúmes se os motivos não forem dados.
IAGO – Melhor assim, assim me sinto mais tranquilo pra falar o que penso, é sobre Cássio e Desdêmona, eu no seu lugar ficaria de olho bem aberto no comportamento dos dois. Não duvido da integridade de ambos, mas vamos combinar, Cássio é um homem que não pode ver um rabo de saia, nem mesmo a um travestir ele resiste; e com todo respeito, sua noiva é uma mulher admirável, e pode ser que desperte algum interesse em Cássio...
OTELO - (rir) A Desdêmona e Cássio? Eles são apenas amigos de longa data.
IAGO – Não quero ofende-lo Otelo, mas não devemos confiar cegamente nas mulheres; Ao pai ela enganou pra hoje está com o senhor.
OTELO - Isso é verdade.
IAGO – Só estou te falando essas coisas em nome da nossa amizade.
OTELO – Sim claro!
IAGO – Agora se o senhor me da licença, preciso passar em casa e depois deixar uma papelada no cartório. (Retirando-se.)
OTELO - A Desdêmona e Cássio? Será possível?
CASA DE IAGO
DESDÊMONA - Emília deixa eu te mostrar o colar que o Otelo me deu de presente, você precisa ver... Eu o havia guardado pra evitar problemas com meu pai, mas agora que ele já sabe de tudo, estou esperando uma ocasião especial para usá-lo.
EMÍLIA - Desdêmona, que coisa mais linda! È uma joia espetacular... (Iago vem entrando e escuta a conversa).
DESDÊMONA – Pois é, e ainda tem um grande significado pra ele, é uma jóia de família, pertenceu a avó dele, e depois a mãe, foi um singelo presente  de um cigano, e que proporcionou muita felicidade ao casamento das mulheres que o possuíram.O Otelo falou que o cigano garantiu felicidade e muito amor para quem o portasse.Perdê-lo ou dá-lo a alguém poderia provocar desgraças de proporções incríveis.
EMÍLIA – Ai credo... Eu como sou estabanada, não queria jamais um presente desses. (Desdêmona rir) Você só me fala das qualidades desse homem e os defeitos? Me conta ele ronca, é ciumento?
DESDÊMONA- ai eu casei com um príncipe Emília, e Otelo não tem por que sentir ciúmes de mim, mesmo por que não lhe dou motivos. (o telefone toca, ela coloca o cola, na mesa de centro). Alô! Meu pai? Como assim? O meu pai ficou louco? Ta, obrigada Judite!
EMILIA- O que houve?
DESDÊMONA - O meu pai ta na TV falando do meu noivado com Otelo.
EMÍLIA - Que absurdo!
DESDÊMONA - Ele vai aproveitar esse escândalo do Cássio pra desmoralizar ainda mais o Otelo. Tchau amiga, eu tenho que ir. (sai apressadamente).
EMILIA- (ver o colar) Desdêmona, o colar...
IAGO - Deixa que eu mesmo entrego. (toma o colar) Eu ouvi a conversa, e vou correndo encontrar o Otelo, todos esses escândalos não serão nada positivos para a imagem do governo. Tchau querida.
EMILIA- Iago... (ele sai). Eu não vou ficar aqui parada... (sai)
GRANJA DO TORTO. ESCRITÓRIO.
(DESDÊMONA caminha nervosa de um lado para outro, o telefone toca)
DESDÊMONA- Alô! Oi Cássio, olha eu falei com ele sim, ele ficou de pensar... Claro pode deixar, mas é que agora eu estou aflita não bastasse o seu escândalo meu pai ainda vai à rede nacional  na tentativa de desmoralizar o Otelo ainda mais... Aí Cássio (Otelo escuta a conversa) eu sinceramente não sei o que fazer... (ela o percebe) então ta, depois conversamos. (desliga)
OTELO- Quem era ao telefone?
DESDÊMONA- Era a Emília preocupada com toda essa situação. Meu amor, você viu o papelão do meu pai na TV?
OTELO- No momento esse é o menor dos meus problemas.
DESDÊMONA- Meu pai não tinha o direito... Ai meu amor desculpas (tenta abraçá-lo, ele se recusa).
OTELO – Eu preciso ficar só. Preciso pensar.
DESDÊMONA- Se é isso que você quer... (Sai)
OTELO – Por que ela insiste em mentir pra mim, por que me esconder que estava com Cássio ao telefone? Sem falar que ela também não confessou que estava com ele mais cedo, será que as suspeitas de Iago?(Entra Iago)
IAGO- Senhor Otelo.
OTELO- Diga.
IAGO- Que bom que te encontrei, queria dizer que podia esquecer tudo que eu falei ontem.
OTELO – Sobre suas suspeitas?
IAGO- Exatamente, não tem o menor fundamento. Ontem mesmo emprestei o carro a Cássio, o dele ta na oficina, ele disse que ia sair com uma moça, e parece que o cara ta amando. Falou até em casamento para muito em breve.
OTELO- Casamento o Cássio.
IAGO- Isso mesmo, não é de se admirar?
OTELO- Deve ser conversa fiada dele, o que te fez pensar que ele realmente ama essa garota?
IAGO- Ele passou horas e horas falando da misteriosa.
OTELO- Misteriosa?
IAGO- É por que segundo ele ainda não pode revelar a identidade da garota. E depois você precisava ver o nervosismo dele quando ligou hoje cedo pra ela, ela disse que tinha perdido um tal de um colar dentro do carro. O cara ficou maluco procurando e nada. E o pior que agora sem querer acabei encontrando esse colar embaixo do banco de ...
OTELO-(surpreso) Esse é o colar?(arrebatando)
IAGO- Sim, esse é o colar, qual o problema?
OTELO- Esse foi o colar que eu dei a Desdêmona de presente de noivado.
IAGO-  Meu Deus, então...
OTELO-  Desgraçados... Agora tudo faz sentido. (pausa) Iago encontre esses dois imediatamente e peça para que venham falar comigo.
IAGO- Senhor, não acha melhor esfriar a cabeça antes de agir.
OTELO- Não me diga o que fazer, vá e agora!
IAGO- Sim senhor! (sai)
OTELO- (toma uma taça de vinho) Como eu pude ter sido tão cego?  Como pude me deixar enganar por tanto tempo? Como pude acreditar nesses dois desgraçados… (com o colar na mão) De que adiantar ter ganhando tanto poder e ter perdido a minha vida! Otelo, um perfeito idiota, um imbecil. Enquanto eu lutava pra chegar à presidência do país eu estava sendo traído bem debaixo do meu nariz... Não é justo, desde que ganhei as eleições parece que o céu conspira contra mim… todos esses escândalos e agora isso. Quando for assumir o mandato já estarei totalmente desmoralizado. Isso não pode ficar assim… o que não tem remédio, remediado está.
DÊMONA – (entrando) Como está Otelo?
OTELO – Como queria que eu estivesse?
DESDÊMONA –  Olha, eu sei que o que meu pai fez não foi…
OTELO – (Grita) Eu não estou falando de seu pai!
DESDÊMONA – Então por que está agindo dessa forma comigo? Você nunca gritou comigo Otelo. O que está acontecendo?(se aproximando)
OTELO – Não encosta em mim!
DESDÊMONA – Quer me dizer de uma vez o que está acontecendo?
OTELO – Eu já sei de tudo.
DESDÊMONA – Tudo?
OTELO – Já sei que me enganei com você... Sei que você não é e nem nunca será a mulher que pensei que você fosse; Sei o quanto você não presta, sei o quanto você é dissimulada, fingida e sei o quanto você é… Vadia!
DESDÊMONA – Eu não admito que você fale assim comigo, eu exijo uma explicação.
OTELO – Eu já sei de você e de seu amante.
DESDÊMONA – Amante? Do que você esta falando Otelo? Eu te amo!
OTELO – Mentira! (bate na cara dela)
DESDÊMONA – Eu tenho ao menos o direito de saber do que você está me acusando exatamente para que possa me defender. Amante? De quem você acha que eu sou amante?
OTELO – Não se faça de desentendida…
DESDÊMONA – Você que está fora de si, eu nunca nem ao menos olhei para outro homem.
OTELO – Onde está então o colar que eu te dei?
DESDÉMONA – Está aqui na minha bolsa, agora a pouco mesmo eu… (procura o colar e não o encontra). Meu Deus, onde estar o colar?
OTELO - Não se lembra?
DESDÊMONA - Eu o mostrei a Emília e depois…
OTELO – Depois você deve ter colocado para sair com aquele canalha e rir as minhas custas, rindo do corno aqui.
DESDÊMONA – De quem você está falando?
OTELO – Não se faça de desentendida que só me aumenta a raiva, estou falando do Cássio!
DESDÊMONA – Cássio? De onde você tirou isso?
OTELO – Você o conheceu bem antes de conhecer a mim, sempre tiveram uma relação que para mim até então era de amizade…
DESDÊMONA – E é isso que nós somos. (Cássio entra).
OTELO – Então por que quando ele te procurou ontem você mentiu pra mim? Por que negou que estava ao telefone com ele? Por que ele estava procurando feito louco esse colar? Assume de uma vez que você é amante do Cássio?
AMBOS- Como é que é?
Otelo- Então você chegou. Ótimo, agora teremos o desfecho perfeito: o acerto de contas entre a vadia, o amante e o corno. (pega uma arma na gaveta de sua mesa de trabalho).
CÁSSIO- Larga essa arma cara!
DESDÊMONA – Para com isso Otelo, vamos conversar isso não passa de um mal entendido…
OTELO – Eu não quero conversar… Agora já é tarde! A vida traçou os nossos caminhos e agora o destino tem que se cumprir.
DESDÊMONA- meu amor, para com isso!
OTELO – Cala essa boca, você não me ama nunca me amou sua desgraçada! (atira) Agora você não irá mais trair homem algum!
CÁSSIO- Não! Você não podia ter feito isso… (paralisado)
OTELO- Acabou. (Atira em Cássio).
EMÍLIA (Entra correndo) – Meu Deus! O que aconteceu aqui? Desdêmona! Fala comigo, Desdêmona! Liga pra emergência, Não pode ser ela, ela está morta... (desesperada) Essa arma? Você...
OTELO – Sim, ela está morta...
EMÍLIA- E o Cássio também, Meu Deus você não pode ter feito isso... O que deu em você? Por que você fez isso Otelo?
OTELO – Eles me mataram antes, me mataram em vida. Eles me traíram, eles eram amantes...
EMÍLIA- Mas que absurdo é esse?
OTELO – Você deveria saber de tudo, talvez você que acobertava os encontros, todas as vezes que ela dizia que estava com você era com ele que ela estava.
EMÍLIA – Você é psicopata, um monstro, de onde você tirou essas acusações absurdas? Ela sempre foi fiel a você. Essa mulher era quase uma santa.
OTELO - Era falsa como a água. Cássio a manchou. Pergunta a teu marido, ele que me abriu os olhos ele que me devolveu a visão...
EMÍLIA - Meu marido?
OTELO - Sim, teu marido.
EMÍLIA – Ele falou que Desdêmona e Cássio eram amantes?
OTELO – Sim. Ele me disse e me ajudou a descobrir toda a verdade.
EMÍLIA - Meu marido!
OTELO – Sim, teu marido, Por que não para de repetir isso? Já disse que foi o Iago.
EMÍLIA – Como Iago foi capaz? Que sua alma apodreça no inferno. Ele Mentiu conscientemente. Ele foi longe demais.
 OTELO – Do que você está falando?
EMÍLIA – Eu casei com um demônio e você é um assassino, assassino! (gritando) Todos vão saber a verdade, assassino!
(Entra Iago)
IAGO - O Que aconteceu?
EMÍLIA – Miserável! Veio ver o resultado das suas armações seu bandido!
IAGO- Do que você está falando meu amor?
EMÍLIA – Esse assassino afirmou que foi você que soube da traição de Desdêmona e o alertou. Tenho certeza de que isso jamais aconteceu. Espero que você tenha uma boa explicação para tudo isso.
IAGO – Eu disse apenas o que pensava, ele tirou suas próprias conclusões.
EMÍLIA - Mas você insinuou que ela tinha um caso com Cássio?
IAGO – Sim.
EMÍLIA - Você é um pervertido. Desdêmona com Cássio? Como assim? Com Cássio?
IAGO - Com Cássio, sim Emília. É melhor você sair daqui, antes que...
 EMÍLIA – Antes que? Antes que eu te desmascare? É isso que você ia dizer? Você quer impedir que eu fale a verdade.
OTELO – Verdade? Mais essa já não é toda a verdade?
EMÍLIA – Essa esta longe de ser a verdade  senhor presidente.
IAGO – Você só pode ter ficado louca? Vamos embora daqui.
EMÍLIA – Eu não vou a lugar nenhum, eu vou ficar e acabar de vez com essa farsa. Você matou dois inocentes Otelo!
OTELO – Ela era culpada, eu a vi negando que estava com ele, depois quando a flagrei ao telefone com Cássio, ela mentiu dizendo que era você. Ela quase implorou para que eu restituísse o cargo ao amante dela.
EMÍLIA – Meu Deus Entenda homem, ela só não queria que você soubesse que Cássio a procurou e pediu para que ela falasse por ele, por isso ela omitiu esses fatos. Ela só queria fazer o bem, e da uma segunda chance a um amigo, alguém que tanto fez pelo o amor de vocês. E o próprio me fez convencê-la de interceder por Cássio.
IAGO – Não fale besteira Emília.
EMÍLIA - Preciso dizer tudo! Preciso dizer tudo! Eu, me calar? De forma alguma.
OTELO – Mas e quanto ao colar que ela deixou no carro quando saiu com Cássio no carro de seu marido?
EMÍLIA - Meu Deus, como você se deixou se enganar tão fácil senhor presidente. Esse colar que você ta falando, ela esqueceu hoje cedo mesmo quando estava me mostrando, e saiu para ver o que o pai dela falava sobre o senhor na TV. Eu tentei pegar para devolvê-lo, mas o próprio Iago, se ofereceu para devolver. Eu jamais iria suspeitar que ele fosse trama tudo isso.
IAGO- Você não pode acreditar nela, ela...
OTELO - (largando a arma) Agora tudo faz sentido. (Aproxima-se de Desdêmona) ó meu anjo, como eu fui cruel... Como eu fui tão covarde!
EMÍLIA - Como você pode ter sido capaz? (Iago tenta sair). Aonde você pensa que vai? (puxa-o pelo braço).
IAGO- Me larga! Ninguém nunca vai acreditar em você. Será a sua palavra contra a minha. E outra, eu não cometi crime algum,  o criminoso aqui não sou eu, é o senhor presidente. Agora me deixe ir...
EMÍLIA- (insistindo) Você é o culpado de toda essa tragédia!
IAGO - Me larga! (Empurra-a) Acabou. (Foge).
EMÍLIA- Desgraçado! Volta aqui... (levanta-se e se aproxima de Otelo). Foi ele, ele que causou tudo isso, pensando bem, você foi mais uma vítima das armações do Iago.
OTELO - (tomando a arma de suas mãos) O que eu fiz não tem justificativa. Peço por favor, que, ao contar estes tristes fatos, fale de mim como realmente eu sou, sem exagero algum, e sem malícia.  Um alguém que amou bastante amou sem limites, um alguém que não sabia ser ciumento, e no momento de fúria, cometeu o maior erro de sua vida... Um homem que muito lutou para chegar ao poder, mas que ao chegar não teve tempo de desfrutá-lo!
(Coloca a arma na boca. Atira. Cortinas).
E A VIDA CONTINUA...