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domingo, 10 de janeiro de 2010

A HORA É ESSA!

PEÇA – A HORA É ESSA!
TEXTO E DIREÇÃO
Denílson David

PERSONAGENS –

Jorge Diretor sonhador
Luís Professor conservador
Alice Professora revolucionário
Regina Faxineira

OS ALUNOS:
Fafá implicante
Paulo engraçadinho
Tina babona Max Malandro
Bio Cdf

ATO ÚNICO

Abrem-se as cortinas, entram alunos de todos os lados. Conversam e riem muito. Em meio á eles está Dona Regina que varre a escola. Entra Alice carregada de livros. Tropeça e cai. Todos riem. O sinal toca, os alunos saem de cena.

REGINA – (Entra varrendo e pára quando vê Alice) Posso ajudar a dona?

ALICE – Oi, eu sou professora me chamo Alice muito prazer!

REGINA – Prazer Regina!

ALICE – Sabe o que é dona Regina? É que eu vim substituir o professor Teobaldo. Mais o problema é que eu não conheço ninguém aqui. A senhora poderia me ajudar?

REGINA – Você tem mesmo certeza que quer ensinar neste colégio?

ALICE – Claro.

REGINA – Às vezes penso que ate um santo desistiria de ensinar na Rainha da Paz. Eu mesma só trabalho aqui por falta de opção.

ALICE – Mais por quê?

REGINA – Os alunos daqui são umas pestes, Tem de tudo bandido, marginal, prostituta, todos os dias venho trabalhar esperando encontrar a morte aqui nesta escola.

ALICE – É tão perigoso assim?

REGINA – Perigoso é pouco minha filha, isso aqui é um inferno! Cuidado, muito cuidado. (Sai)

ALICE – Inferno? Dona Regina, dona Regina a senhora precisa me ajudar. (Jorge entra pelo lado oposto e esbarra com Alice)

JORGE – Desculpa. Bom dia, você quem é?

ALICE – Alice sou a professora substituta do...

JORGE – Claro, seja bem vinda!Eu sou Jorge diretor da escola.

ALICE – Obrigada.

JORGE – Espero que se adapte bem. Creio que já tenha ouvido falar em o quanto é difícil lecionar na Rainha Paz.

ALICE – Ouvi coisas terríveis, o senhor nem imagina.

JORGE – Admiro sua franqueza! Apesar dos pesares essa escola é minha vida gostaria de vê – lá transformada em algo mais um simples... Edifício. Mais eu estou tão sozinho, entende?

ALICE – Acho que sim.

JORGE – A escola está ai para educar. Os pais esperam que façamos milagres com os filhos com apenas 4 horas de contato por dia.

ALICE - Pois é. E muitos põem os filhos na escola porque não tem onde colocar.

JORGE - Quando eu digo que os pais precisam ser reeducados dizem que sou implicante em lares sadios a formação do jovem se torna muito equilibrada.

ALICE-E como reeducar os pais?

JORGE - Essa é uma boa pergunta! Que precisa imediatamente de uma resposta. muito bem, como pode ver será uma difícil tarefa! Agora vamos até a sala dos professores. Suas aulas serão à tarde e a noite e você poderá entrar em contato com os alunos ainda hoje. (Saem)

(SALA DE AULA)

LUIZ – Todos sentados! O sinal já bateu. Eu não quero ouvir nem mais um ruído!

BIO – Licença professor, posso entrar?

LUIZ – É claro que não. O sinal tocou faz dois minutos. Retire-se, por favor!

BIO – Mais professor eu estava na biblioteca...

LUIZ – (cortando-o) Pouco me importa o que você faz ou deixa de fazer, fora!

BIO – Mas...

LUIZ – Fora! E que isso sirva de exemplo para todos.

FAFÁ – (grita estérica) Roubaram meu dinheiro!

TINA – Tem certeza?

FAFÁ – Claro que tenho! Eu tinha um e ciquenta na bolsinha e agora não está mais!

PAULO - que ladrão barato se sujar por tão pouco.

LUIZ – Então existe um ladrão nessa classe?

MAX – chame a polícia fafá, isso é caso de cadeia.

ALICE – Bom se ate o sinal bater esse dinheiro não aparecer amanhã todos terão que fazer um provão com os assuntos durante o ano todo. (Reclamação Geral)

FAFÁ – Eu também professor?

LUÍZ – Você também!

TINA – Professora e ela estiverem mentindo?

FAFÁ – Eu não sou mentirosa! Se repetir isso eu enfio essa bolsa pelo seu ouvido.

LUÍZ – Silêncios todos! Minha decisão já foi tomada!(Bate o sinal LUÍZ sai).

MAX - Eu não suporto esse Luiz.

BIO –(entrando) Gente tão falando que é professora nova. O velho Teobaldo não agüentou o tranco. Pediu demissão.

PAULO – Se for igual ao teobaldo velho gaga e caindo os pedaços vai ser fácil. (Entra Alice e Jorge).

JORGE – Bom dia pessoal gostaria de apresentar a nova professora de geografia a Alice. Tratem-na com educação, boa aula!

MAX – Rapaz que professora gostosinha!

ALICE – Oi para todos. Meu nome é Alice! Quero conhecer cada um de vocês, mais de uma forma diferente.

TINA – Professora é só fazer a chamada.

ALICE – Isso fica pra depois. É o seguinte: um a um vão vir aqui no centro. Dizer seu nome e fazer um movimento estranho, e todos repetem e assim por diante. Entendido? Vamos começar?

MAX – Isso é coisa de frutinha.

ALICE – Por favor, não custa nada participar. vamos começar?

(TODOS PARTICIPAM MESMO QUE UM POUCO TÍMIDOS)

ALICE – Muito bem. Agora em seus lugares. Por favor, gostariam que vocês abrissem o livro na página 17. Vamos ler sobre espaço geográfico, quem poderia ler?

BIO-Eu professora! (lendo) Espaço – Distância entre dois pontos, lugar mais ou menos bem delimitado, cuja...

ALICE – Espere, por favor, fechem os livros.

TINA - Professora a gente acabou de abrir.

ALICE - (Rir) – Mais e daí abriu, agora fecha, simples. Gente eu não sei por que os livros insistem em serem chatos não buscam o novo. Espaço nada mais é que um lugar delimitado que pode ou não conter alguma coisa. (pausa) Troquem de lugares. Todos vamos. Agora fiquem de pé nas carteiras.

FAFÁ - O que é isso é maluquice!

ALICE - temos que ser um pouco malucos para entendermos a loucura da vida querida, ande fiquem de pé. (a começar por Paulo todos fica exeto tina).

TINA - Eu não fico.

ALICE - Observe a sala de um outro Ângulo de uma maneira diferente.

PAULO – Aí, é estranho não dar para explicar, é diferente.

ALICE - Vocês estão vendo o mesmo espaço, mas de forma diferente. Agora vamos ver outros espaços. Outros espaços, outros lugares.

MAX - Vamos sair da sala de aula?

ALICE - É, vamos dar uma voltinha.

TINA - Essa professora é maluca. (Saem)
.
LUIZ –(entrando) Mais que barulho é esse?

TINA – Professor, essa estranha que acabou de entrar é doida varrida não fez chamada. Mandou fechar os livros. Mandou todo mundo subir nas carteiras. E pra completar foram passear.
LUIZ – Isso é um absurdo!

TINA – Pois é!

LUIZ – Amanhã é um outro dia. Logo cedo falarei com o diretor

(DIA SEGUINTE)

(SALA DOS PROFESSRES)

DOUTOR JORGE – (Entrando) Bom dia, Dona Regina!

DONA REGINA – Bom dia Sr. Jorge!

ALICE – Bom dia a todos!(Jorge e Regina respondem)

LUIZ – (Entrando) Operário faz greve, funcionário publico federal faz greve, médico faz greve... Mais quando chega a vez do professor, ele entra pelo cano. Maldita hora que comecei a lecionar! Eu deveria qualquer coisa na vida menos professor.

REGINA - Você reclama demais da vida.

LUIZ - A vida está pela hora da morte, não sei o que mais o governo quer da gente! Quando chega a sexta-feira, estou querendo morrer!

JORGE - Também quem manda ensinar os três turnos.

REGINA - Belas aulas devem ser!

ALICE - Eu com um turno eu quase morro. Como faz para corrigir as provas?

LUÍZ - E você acha que sou cretino de corrigir? Dou nota pela cara do aluno e ele que se dane.

JORGE - Mais isto está errado.

LUIZ - E que me importa? Hoje em dia, ninguém leva a coisa a sério, ninguém quer estudar!

ALICE - Mais se todos fizerem como você aí sim que os alunos vão aprender cada vez menos.

LUIZ – Não me critique mocinha! Eu já fiquei sabendo que suas aulas são esquisitas.

ALICE – Esquisitas, por quê? Por que busco o novo, eu estou cansada de dar aulas enfadonhas e que o aluno assiste simplesmente por obrigação. O aluno tem que vir pra escola por prazer, ele tem que gostar para aprender.
LUÍZ - Isso aqui é uma escola minha filha e não um parque de diversões nosso dever é ensinar e não de divertir ninguém. (Com licença)

JORGE – Sinceramente Luiz, não sei por que cargas d´agua você escolheu ser professor.

LUÍZ - Eu pensei que estava fazendo uma boa escolha, mais francamente com o salário que ganhamos...

ALICE - É meu caro Luiz, o governo finge que paga. Os professores fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem. É um maldito ciclo que precisa ser quebrado.

JORGE – Mim desculpe Alice, é que e meio, meio...

ALICE – Quadrado! Agora eu entendo porque a escola anda tão mau. Bem os alunos me esperam.

REGINA – Esse dois juntos na vai prestar.

JORGE – É seja o que Deus quiser.

(SALA DE AULA)

ALICE – Bom dia! Hoje eu trouxe um dvd sobre o conteúdo que estamos estudando para que vocês possam entender melhor a matéria. Esperem, é impressão minha ou tem alguém fumando? Quem está fumando?

MAX – Sou eu e daí?

ALICE – É proibido fumar em sala de aula, o senhor sabia?

MAX – Não sabia e preferiria ficar sem saber. (Risos)

ALICE – Por favor, queira tirar o cigarro fora.

ALUNO – Aí tu que pediu! (Amassa o cigarro na cabeça do aluno que está a sua frente).

BIO – Eu vou contar tudo pra mamãe!

PAULO - aí Bio virou cinzeiro heim!

ALICE – Isso não foi nada educado, tenha a bondade de jogar o cigarro fora.

MAX – Não tô afim.

ALICE – Muito bem... Turma, vocês podem ir caminhando para a sala de vídeo. Eu vou em seguida.

(TODOS VÃO SAINDO)

ALICE – Você fica Max.

MAX – Por quê?

ALICE – Eu quero conversar com você.

MAX – Não tô a fim de papo.

ALICE – Tudo bem, eu não quero forçar a barra mais olha, rebeldia não é querer e contra tudo e contra toda a rebeldia é ser quem você é sem medo. Porém sem ferir nem machucar ninguém. Você está indo pelo caminho errado meu caro Max, Se cuida! Precisando eu estou aí. (Saí)

MAX - cara, ela é mesmo demais!

DIA SEGUINTE

(PÁTIO)

FAFÁ – Ai eu adorei o filme de ontem!

PAULO - Gente, a professora Alice era tudo que a escola estava precisando.

TINA – Ai não sei não. Acho ela muito maluquinha muito cheia dei nvenção.

MAX – Claro pra você professor bom é só o seu amado: O Luiz (Todos) Ai Luiz!

TINA – Morram, morram todos vocês.

REGINA – (entrando) Hei cambada o sinal já tocou. Vamos, vamos, já pra sala!

BIO – galera vamos assistir à aula da nossa querida Alice. (Saem Alice Entra).

ALICE - Bom dia!

REGINA - Meu Deus que animação!

ALICE - Hoje eu estou a todo vapor. Regina eu queria te fazer uma pergunta: Como a gente descobre o que as pessoas querem da vida!

REGINA - Perguntando ora essa.

ALICE - Parece simples.

REGINA - Quanto mais o homem tenta descomplicar as coisas, mais ele complica.

ALICE - Acho que a senhora acaba de me dar uma idéia. Bom acha melhor eu sair à aula já vai começar. (SAI)

(SALA DE AULA)

ALICE – Bom, gente, e ai, como passaram o fim de semana?
PAULO – Ai o meu foi super tranqüilo.

FAFÁ - o meu foi triste.

ALICE – Bem o semestre está terminando e parece que foi ontem que nos conhecemos. Agora depois de quatro meses será que nos conhecemos mesmo? Será que nos tornamos amigos de verdade? Eu gostaria de voltar das férias e começar diferente. Mas para que isso aconteça, eu preciso saber o que realmente pensam sobre a escola, a classe, a matéria sobre mim, o diretor, professores, sua casa cidade, este país. Se o professor não sabe o que o aluno pensa e espera da vida, como pode orientá-lo ou ajuda-lo? Gostaria que abrissem o coração e diga tudo o que sentem. Desabafem-se à vontade. Acredite será muito importante e somente eu irei ler essas redações.

MAX - Posso escrever mesmo tudo professora?

ALICE - Pode. Não deve! Saibam que não ficarei ofendida se disserem que sou uma chata. Muito ao contrário é honestidade fiquem a vontade teremos a aula inteira. Só pra isso.

ALICE – (lendo) Eu sou um aluno. Sou repetente da oitava. Uns professores não vão com a minha cara. Sabe por quê? Por que se vou bem, nas provas ele acham que colei. Eles nunca acreditam nas coisas que eu sei.
Veja história, por exemplo, o professor que eu decore o nome dos papas. O que me interessa? Eu sei quem é o papa de hoje, mas aqueles que já morreram que diferenças me fazem? Uns colegas meus conseguem decorar igual a papagaio e repetem tudo como que gravador. Depois que acaba a sabatina, sacodem a cabeça... E esquecem tudo.
Já falei com meu pai de sair da escola, por que sei que não, que ninguém vive sem escola. Mas eu pergunto: de que serve a escola, se não ensina nada do que eu quero? Só pra pegar um diploma e guardar no fundo da gaveta? É triste e chata a gente ser obrigado a ficar sentado numa carteira enquanto os professores falam, falam, falam coisas que servem para nada!Meu deus aqui está o caminho... (entra Jorge e luiz).

JORGE - É Alice, enfim chegaram as nossas merecidas férias.

ALICE - Durante as férias, farei um longo exame de consciência e, se tudo der certo como penso, vou começar uma revolução na RAINHA DO CÉU quando começarem as aulas.

LUÍZ - Não vou mexer uma vírgula no meu planejamento. Durante as férias quero sumir, desaparecer se eu ouvir falar em escola arrebento!(saem)

(FÉRIAS)

(sala de aula. Quando Alice chega está o maior corre e corre e tudo bagunçado e revirado.).

ALICE - O que aconteceu?

REGINA - Vândalos dona Alice, vândalos! Entraram na escola e fizeram sujeirada na secretaria, diretoria, cozinha, uma tristeza!

JORGE - Isso é coisa que se faça? Temos tanta dificuldade para manter tudo em ordem, e agora...

LUÍZ - È isso ai meus senhores, depois aparecem certos cidadãos e psicólogos querendo dizer que não existe delinqüência juvenil.

JORGE - Esta bem! Não adianta ficarmos só olhando. È lógico que não teremos aula hoje porque também andaram sujando, dispensem as classes. Precisamos de voluntários que nos ajude a colocar a escola em ordem.

ALICE - Porque não pedimos colaboração dos alunos?

LUÍZ - Alunos? (RIR) essas pestes só servem para atrapalhar.

ALICE - Pois eu vou pedir a uns alunos meus que ajudem.

JORGE - Ótima idéia

ALICE – pessoal eu peço um minuto de atenção. uns engraçadinhos viraram nossa escola do avesso.destruíram quase tudo,agora é para que tudo volte ao normal depende de vocês!

TINA-como assim?

ALICE - ou arregaçamos as mangas e reorganizamos tudo, ou simplesmente cruzamos os braços e assistimos o fim da nossa escola. Então o que me dizem?

(SILÊNCIO)
ALICE - Bem se assim que vocês querem... acho que tenho mais nada que fazer aqui.(vai saindo)

PAULO - espere... Alice eu to dentro!

BIO - eu também!

TINA - a Alice tem razão, essa escola é nossa. por isso não podemos deixar que nada nem ninguém acabem com ela!

MAX - é isso aí vamos revolucionar!

FAFÁ – É isso aí galera, à hora é essa!

(TODOS SE AGITAM)

ALICE - pessoal por que não pintamos a rainha da paz? Quem gosta da cor desta escola?

TINA - Detesto esse amarelinho anêmico! Todas as escolas as escolas precisam ser iguais? Que horror, que falta de originalidade!

JORGE - De que cor você gostaria de ver esta sala?

FAFÁ - Ai, Deus me livre! Prefiro azul.

ALICE - Bem, é claro que não temos dinheiro para pagar um pintor, mais dinheiro para comprar a tinta, podemos dar um jeito. Se resolvêssemos o cano do pintor...

PAULO - Hei esperai! Pintor eu sei e até gosto.

MAX - Eu não sei pintar, mas se me ensinarem aprende depressa.

BIO - Eu também!

FAFÁ - E como vamos arranjar dinheiro para a tinta, professora?

ALICE - Podemos organizar bazares, bingo rifas, feijoadas, leilões...

TINA - E nós mulheres, vamos ficar só olhando?

JORGE - Por que as meninas não fazem cortinas?Quem sabe nossa sala de aula tomaria um ar de sala de conversa em vez de sala de aula?

REGINA - Eu ajudo a fazer a cortina.

FAFÁ-. Também posso ajudar?


TINA - Adorei a gente poderia até trazer um som.

ALICE - Se for baixinho, música suave, que ajude a concentração, positivo.

MAX-, quando podemos começar a pintar?

ALICE - Porque não agora mesmo?

BIO - Como?

JORGE - Tudo precisa ter o primeiro passo para começar. Parece que o nosso tem que ser agora. a hora é essa!!!(todos vibram)

REGINA - Não posso acreditar no que estou vendo!

JORGE - Pois é eu também não queria acreditar. Mas a senhora está vendo com seus próprios olhos.


ALICE - É que simplesmente descobriram que gostam da escola! E tem mais, vão fazer uma horta, comutaria uma rádio escolar, Grêmio Estudantil.

JORGE - è temos que admitir que nossa escola já não seja mais a mesma!

LUÌZ - Vocês não vão conseguir da noite pro dia transformar essa escola

JORGE - Toda corrida começa pelo primeiro passo, e esse é o nosso primeiro passo, uma grande corrida que se inicia rumo à educação que queremos e a escola que sonhamos.

LUÌZ - É eu acho que estão sonhando alto demais. Cuidado com o tombo

REGINA - Sonhar não custa nada.

ALICE - Pois é já dizia Dom Helder Câmara: Sonho que se sonha só é apenas sonho, mas sonho que se sonha junto é a realidade que começa acontecer!

E A VIDA CONTINUA...


sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

DOM CASMURRO

PEÇA DOM CASMURRO

CASA DE BENTINHO

(CAPITÚ E BENTINHO ESTÃO EM CENA, AMBOS SENTADOS ESCORADOS NAS COSTAS UM DO OUTRO)

CAPITU – Bentinho, você, mim acha bonita?

BETINHO – Ora Capitu, por que essa pergunta?

CAPITU – Então você mim acha tão feia assim?

BENTINHO – (VIRA-SE E A ENCARA) Feia? Você é a menina mais linda que eu já conheci em toda a minha vida.

CAPITU- (BEIJA-O NO ROSTO) Obrigada! Ontem eu tive um sonho lindo... E você, sonhou com quem ontem?

BENTINHO – Sonhei que tínhamos que nos separar, e que nunca mais iríamos brincar juntos.

CAPITU – Então não foi sonho, foi pesadelo e eu morreria se perdesse a sua amizade. (ABRAÇA – O E LEVANTA-SE) Eu sonhei, que nós andávamos no céu, em meios as nuvens...

BENTINHO – (LEVANTANDO-SE) E lá Capitu era bonito?

CAPITU – Muito, muito lindo, nós conversávamos (PEGA NA MÃO DELE) eu pegava na sua mão, ela estava quente. Ai começava a música, ai nós dançávamos, dançávamos... (ELES DANÇAM, JOSÉ DIAS ENTRA SEM QUE ELES VEJAM E OBSERVA)

VOZ DONA FORTUNATA – Capitu, menina venha já pra casa!
CAPITU – Tenho que ir.

BENTINHO – Vamos, eu vou lhe deixar!

CAPITU – Quem chegar por ultimo é a mulher do padre.

BENTINHO – Então vai, no já: 1, 2, 3 já. (SAEM CORRENDO)

JOSÉ DIAS – Essas crianças!

DONA GLÓRIA – (ENTRANDO) José Dias você viu o Bentinho?

JOSÉ DIAS – Bentinho foi deixar a Capitu em casa. Dona Glória, se a senhora que mesmo meter Bentinho no seminário, deve se apressar antes que seja tarde.

DONA GLÓRIA – Tarde?

JOSÉ DIAS – Não me parece bonito (BENTINHO OS OBSERVA) que o Bentinho ande metido nos cantos com a filha do Pádua.

DONA GLÓRIA – Metido nos cantos?

JOSÉ DIAS – É um modo de falar, em segredinhos, sempre juntos, Bentinho quase que não sai de lá... Se eles pegam de namoro...

DONA GLÓRIA – Mais senhor José Dias tenho visto os pequenos brincando e nunca desconfiei de nada. Bentinho mal tenho 15 anos, Capitu fez 14 semana passada, sem falar que foram criados juntos.

JOSÉ DIAS – Mais creio que só falei de muito observar. Você já reparou nos olhos da menina? Aqueles olhos de cigana, obliqua e dissimulada.

DONA GLÓRIA – Em todo o caso já é tempo. Vou trata-lo de mete-lo no seminário o quanto antes. Afinal de contas é promessa, tendo nascido morto meu primeiro filho, peguei-me com Deus para que o segundo vinga-se, prometendo-lhe se fosse homem dar-lhe-ia um padre.

JOSÉ DIAS – Então já é tempo de cumprir a promessa. (SAEM).

BENTINHO – (ENTRANDO PASMO) Sempre juntinhos... em segredinhos... se eles pegam de namoro... eu e Capitu, Capitu e eu? Tenho que falar com ela. (SAI).

CASA DE CAPITU

(CAPITU ENTRA E ESCREVE NO MURO: BENTINHO E CAPITOLINA)

BENTINHO – (ENTRA CALADO E OBSERVA O QUE ESTÁ ESCRITO NO MURO)

CAPITU – (VIRA-SE ASSUSTADA) O que você tem Bentinho?

BENTINHO – Eu? Nada... é uma noticia.

CAPITU – Noticia, noticia de que? (APROXIMA-SE, BENTINHO OLHA PARA O MURO E LÊ O QUE ELA ESCREVEU. ELES SE OLHAM E DÃO-SE AS MÃOS).

DONA FORTUNATA – (ENTRANDO) Vocês estão jogando o siso?

CAPITU – É, mais Bentinho ri logo não agüenta.

DONA FORTUNATA – É mais agora está sério.

CAPITU – Só porque mamãe está olhando.

DONA FORTUNATA – (LIMPA O QUE ESTÁ ESCRITO) Olha Capitu não fique sujando o muro. (SAI)

(BENTINHO E CAPITU SOLTAM-SE AS MÃOS E DÃO-SE AS COSTAS)

CAPITU – Então que noticia tem para me dar?

BENTINHO – Minha mãe resolveu cumprir a promessa e me mandar pra o seminário.

CAPITU – (INDIGNADA) O que? Beata! Carola! Papa missa!

BENTINHO – Não fale assim! Olhe, mais eu juro que pela hora da morte eu não vou.

CAPITU – Você! Você vai.

BENTINHO – Não, não vou.

CAPITU – Se eu fosse rica você fugiria, metia-se em um navio e ia para Europa... Tem que ter uma saída.

BENTINHO – Mais qual?

CAPITU – Já sei! José Dias ele pode convencer sua mãe.

BENTINHO - Mais se foi ele mesmo que falou

CAPITU – Não importa.

BENTINHO – Eu acho que não vai dar certo.

CAPITU – Então vá pro seminário.

BENTINHO - Não isso não.

CAPITU – Então o que custa tentar?

BENTINHO – Então tá, eu vou falar com ele. (SAI)
CAPITU – Boa sorte!

BENTINHO – (SAINDO) Se o José Dias conseguir, eu rezo mil padre nossos e mil ave Marias.

CASA DE BENTINHO


JOSÉ DIAS – (ENTRA E SENTA-SE)

BENTINHO – José Dias, eu, eu queria pedir-lhe um favor.

JOSÉ DIAS – Um favor, mande, ordene o que é?

BENTINHO – Mamãe que eu seja padre, mais eu não posso ser padre.

JOSÉ DIAS – Mais o que posso fazer?

BENTINHO – Pode muito, olhe fala pra mamãe se ela quiser que eu estude lei vou pra São Paulo.

JOSÉ DIAS – Tudo bem, eu falo com sua mãe. Mais então porque não estuda lei fora? Poderemos ir juntos viajaremos pelas terras estrangeiras ouviremos inglês, francês, italiano, espanhol, russo e ate sueco. Dona Glória não poderá acompanha-lo. Mais eu posso ir com você.

BENTINHO – Então está dito, peço à mamãe que não me coloque no seminário e vamos juntos á Europa.

JOSÉ DIAS – Pedi eu peço, mas pedi não é alcançar, mas deixe comigo. Oh Europa! Estamos abordo. Estamos abordo Bentinho.

BENTINHO – Obrigado José Dias!

JOSÉ DIAS – Oh Europa!

DONA GLÓRIA – (ENTRANDO) Falando só José Dias!
JOSÉ DIAS – Dona Glória eu estive pensando, será mesmo que Bentinho tem vocação pra ser padre?

DONA GLÓRIA – Creio que sim! Pois ele vai sempre a igreja, não pede uma missa, reza o terço...

JOSÉ DIAS – Não contesto, mais o que eu digo é que pode-se muito bem servir a Deus sem ser padre cá fora; pode-se ou não pode-se.

DONA GLÓRIA – Pode-se!

JOSÉ DIAS - Pois então, sem vocação é que não há bom padre

DONA GLÓRIA – Tudo é Deus e Deus permite. Senhor jose dias bentinho há de ser um bom padre. (SAI)

JOSE DIAS – Será uma difícil missão! (SAI)

CASA DE CAPITU

CAPITU ESTÁ SENTANDA PENTEANDO-SE

CAPITU – Será que José Dias intercedeu por Bentinho?

BENTINHO – (ENTRANDO) Bom dia Capitu! Como passou a noite?

CAPITU – Eu bem. José Dias ainda não falou?

BENTINHO – Parece que não.

CAPITU – É um inferno isto !você jura que ele falará?(levanta-se)

BENTINHO - Juro! Capitu ,sabia que eu seria capaz d fazer-lhe um penteado.

CAPITU - Você?

BENTINHO - Eu mesmo.
CAPITU - Vai estragar todo o meu cabelo isso sim.

BENTINHO - Se embaraçar,você desembaraça depois.

CAPITU - Vamos vêr1

BENTINHO - Senta aqui que é melhor. (senta-se no banco).

CAPITU - Vê lá em bentinho!(ele faz um penteado engraçado).

BENTINHO - Pronto,veja no espelho!

CAPITU - (olha-se no espelho) ah!eu estou horrível!

BENTINHO – Não exagere Capitu!

CAPITU – Vou mostrar pra todo mundo eles vão rir de você! (VAI SAINDO)

BENTINHO – Espere Capitu! (PUXA PELA MÃO ELE VOLTA DE ENCONTRO DE MANEIRA QUE FIQUEM FACE A FACE, ELES SE OLHAM E SEBEIJAM).

VOZ DA MÃE DE CAPITU – Capitu, venha já mim ajudar menina (eles se afastam)

CAPITU – Mamãe, olhe como este senhor cabeleireiro me penteou , pedir para acabar p penteado e fez isto.

DONA FORTUNATA – Para quem nunca penteou , não está mau.

CAPITU – O que mamãe? Isto? Ora mamãe.

D.FORTUNATA – Deixa de conversa e vem mim ajudar, mais tarde vocês brincam bentinho. (SAEM).

BENTINHO – Eu sou homem ! Eu sou homem. (SAI). CASA DE BENTINHO.
JOSÉ DIAS – (ENTRA)

BENTINHO – José dias já falou com mamãe.

JOSÉ DIAS – Já sim bentinho, porém não tenho boas noticias.

BETINHO – Então diga de um vez!

JOSÉ DIAS – Não consegui êxito, sua mãe está irredutível. Mas continuarei tentando. A Europa que nos esperem.O Europa,estamos abordo bentinho.(SAI)

D. GLORIA – (ENTRANDO) Tudo bem filho?

BETINHO – Mãe eu queria dizer-lhe um coisa... Quando eu vou para o seminário?

D.GLORIA – Agora só para o ano, depois das férias.

BETINHO – Mamãe se senhora pedisse a Deus que despencasse da promessa?

D.GLORIA – Não peço. Está tonto bentinho. Como havia de saber que Deus mim despencaria?

BENTINHO – Talvez em sonho, eu sonho as vez com os anjos e santos.

D. GLORIA – Promessa dada não se volta atrás. Bentinho serás um lindo padre!(SAI).

MESES DEPOIS...

CASA DE CAPITU

BENTINHO – Capitu todas as tentativas foram em vão parto amanha cedo para o seminário.(SE ABROÇAM)

CAPITU – Se você tivesse de escolhe entre mim e sua mãe quem e que escolheria?
BENTINHO – Eu? Mais para que escolher? Mamãe não era capaz de mim perguntar isso.

CAPITU – Pois sim, eu pergunto. Suponha que você receba um noticia que eu esteja morrendo você deixaria o seminário, deixaria todo para mim ver morre?

BENTINHO – Não fale em morre capitu! (SE ABRAÇAM)

BENTINHO – Você jará um coisa? Que só há de casa comigo?

CVAPITU - Ainda que você case com outra cumprirei meu juramento não casando nunca.

BENTINHO – Case com outra?

CAPITU – Quem sou eu para você lembra- se de mim nessa ocasião?

BENTINHO – Mais eu também juro! Juro por Deus nosso senhor só com você! Basta isso?(SE BEIJAM )

CAPITU – Eu ti amo bentinho!

BENTINHO – Eu também ti amo capitu, vou para o seminário como se um outro colégio qualquer.

CAPITU - Vá vamos enganar toda essa gente.

BENTINHO – Isso mesmo, assim será. A distancia não nos separará adeus capitu .

CAPITU – Adeus bentinho (SE ABRAÇAM).

(BREU)

DOIS ANOS... SEMINARIO

(BENTINHO ESTÁ A JOELHADO REZANDO)
(VESTIDO COM UMA BECA SE BEZE E LEVANTA-SE)

ESCOBAR – (ENTRA TAMBÉM VESTIDO COM A BECA)

BENTINHO – Que saudade eu sinto da minha doce Capitu... Será que ela está sofrendo assim como eu? Ou será que está pouco se importando com a minha ausência ausência rindo pelas minhas costas? Será que algum peralta da rua está galateando-a? se algum daqueles engraçadinhos se meter a besta... eu mato, eu mato os dois!

ESCOBAR – Oi Bentinho! Que cara essa? Meu amigo, o que está lhe afligindo?

BENTINHO – Tenho motivos...

ESCOBAR – O que é?

BENTINHO – Escobar, você é meu amigo, eu sou seu amigo também... você é capaz de guardar um segredo?

ESCOBAR – Isso lá é pergunta, Bentinho? Claro que sim.

BENTINHO – Escobar eu não posso ser padre.

ESCOBAR – Nem eu meu caro Bentinho.

BENTINHO – Nem você?

ESCOBAR – Segredo por segredo, meu negocio é o comercio, não nasci para as batinas. Eu ate sou religioso, mas o comercio é a minha paixão.

BENTINHO – Só isso?

ESCOBAR – Que mais há de ser?

DOIS ANOS

BENTINHO – Uma pessoa?... meu coração não pertence a Deus, ele já foi conquistado pela criatura mais bela de todo esse mundo. A Capitu

ESCOBAR – É meu amigo seu caso é realmente sério, mais como você pretende convencer sua mãe a deixá-lo sair daqui?

BENTINHO – Na ultima vez que José Dias me escreveu, sua idéia era irmos ate a Roma pedirmos absolvição do papa.

ESCOBAR – É... já sei! É simples Bentinho! Sua mãe fez promessa a Deus de lhe da-lhe um sacerdote, não é? Pois bem dei um sacerdote que não seja você. Ela pode tomar a se algum moçinho órfão, faze-lo ordenar a suas custas, estará dando um padre sem que seja você...

BENTINHO – Sim, é isso!

ESCOBAR – Saímos juntos! Você para os braços de sua Capitu, e eu para o mundo do comercio. (SAEM)

BREU

SETE ANOS

DONA GLÓRIA – É José Dias, Você tem razão, o Bentinho nunca séria um bom padre. Hoje é um bom pai de família, e faz tudo pela mulher e seu filho.

JOSÉ DIAS – É Dona Glória, sete anos atrás é já previa o amor de Bentinho e Capitu.

DONA GLÓRIA – Eles nasceram um pra o outro.

JOSÉ DIAS – A profissão não podia ser melhor, bacharel em direito!

BREU

ENTRA CAPITU, BENTINHO, ESCOBAR, EZEQUIEL.

BENTINHO – Essa sim é uma vida feliz ao lado da minha mulher, do meu querido filho, do meu melhor amigo...

CAPITU – E a Sancha Escobar, como vai? Espero que a esteja tratando bem, afinal ela foi e é a melhor amiga.

ESCOBAR – Ah Capitu, a Sanchinha está ótima cada dia mais linda!

ESEQUIEL – Mamãe, eu quero suco!

CAPITU – Não faz muito tempo que você tomou um copão de suco.

BENTINHO – Vem filhão, o papai de te da suco. (SAEM)

CAPITU – Você ainda vai deixar o Esequiel, mal acostumado.

ESCOBAR – Eu fiquei muito feliz quando eu soube que o nome do filho de vocês teria o meu nome. É motivo de honra.

CAPITU – O que é isso você merece (SORRIR)

ESCOBAR – Eu adoro seu sorriso, sabia?

CAPITU – Para Escobar!

ESCOBAR – Quando o Bentinho mim falava de você, eu chegava a sonhar a mim perguntar se era possível existir mulher tão perfeita.

CAPITU – Perfeita eu? Para Escobar, isso não são coisas que se diga a uma mulher casada.

ESCOBAR – É que o coração muitas vezes tem razão, que a própria razão desconhece.

CAPITU – Com tantos galanteios assim se estivéssemos em um baile na certa me tiraria para dançar!

ESCOBAR – Mas para que baile se podemos dançar aqui mesmo. Apenas com o som dos anjos. (ESTENDE A MÃO PARA CAPITU, ELES DANÇAM E RIEM MUITO).

ESCOBAR – Enquanto nosso segredo, está seguro?

CAPITU – O Bentinho ainda não desconfiou de nada.

ESCOBAR – Isso sim é que segredo!

BENTINHO – (ENTRANDO) Vejo que estão se divertindo.

CAPITU – O Escobar consegue dançar ainda mais ruim do que você Bentinho.

ESCOBAR – Não exagere cunhadinha.

BENTINHO – Mais que segredo é esse que vocês me escondem?

CAPITU – A culpa de acabar o segredo é toda sua (SAEM; VOLTA COM UM SACO CHEIO DE LIBRAS)

BENTINHO – Mas que libras são essas?

CAPITU – São sobras do dinheiro que você me da mensalmente.

BENTINHO – Quem foi o corretor?

ESCOBAR – É ai que eu entro na história, eu fui um ótimo corretor! Quando contei isso a Sanchinha ela também ficou espantada.

BENTINHO – Vê se ela aprende também.

ESCOBAR – Não creio; sanchinha não é gastadeira, mas também não é poupada, o que lhe dou chega, mas só chega.

BENTINHO – Capitu é um anjo!

ESCOBAR – (INDO ATE A JANELA)
O mar está de desafiar a gente.

BENTINHO – Você entra no mar amanhã?

ESCOBAR – Tenho entrado em mares muito maiores, você não imagina o que é um bom mar em hora bravia. É preciso nadar bem, como eu, e ter esses pulmões, agora tenho que ir. Adeus! (SAI)

CAPITU – (PARA ESEQUIEL) E você o que está fazendo?

ESEQUIEL – Mamãe quer brincar comigo?

CAPITU – Você já reparou que Ezequiel tem nos olhos uma expressão esquisita? Só vi duas pessoas assim, um amigo de papai e o Escobar, olha Esequiel; olhe, fique assim, olhe para o lado, não precisa virar tanto os olhos assim.

BENTINHO – É você tem razão, mais ele ainda é muito criança ainda, e a beleza saiu a você.

ESEQUIEL – Vamos dormir mamãe.

CAPITU – Vamos querido. (SAEM)

BREU

BENTINHO – (ENTRA GRITANDO) Capitu! Cadê você Capitu?

CAPITU – Bentinho, o que aconteceu?

BENTINHO – Eu fui na praia se encontrar com Escobar, e você não sabe que aconteceu...

CAPITU – Fala de uma vez Bentinho, você está me deixando aflita.

BENTINHO – Escobar Capitu, ele morreu afogado.

CAPITU – Não! Não! Não! (SE ABRAÇAM-SE)

BENTINHO – Agora temos que ir, a Sancha está desesperada, ela precisa de ajuda. (SAEM)

BREU

DIAS DEPOIS

BENTINHO – (OLHANDO PARA A FOTO DE ESCOBAR) Meu amigo, meu amigo Escobar... porque naquele dia durante o velório, Capitu parecia querer vencer a se mesma! E quando ela olhou daquela forma para o cadáver tão fixa tão apaixonadamente fixa, com algumas lagrimas poucas e caladas, os seus olhos de ressaca transmitiam tanta dor... (ESEQUIEL ENTRA PRA DEIXAR O CAFÉ)

CAPITU ENTRA COM ESEQUIEL NOS BRAÇOS

CAPITU – Bom dia Bentinho (VAI ABRAÇA-LO MAIS ELE RECUSA)

CAPITU – Desde a morte de Escobar você anda tão estranho...

BENTINHO – Impressão sua Capitu.
BENTINHO – Impressionante com o Esequiel parece com o finado Escobar. Será mesmo que eles seriam capazes? Não agüento mais essa duvida, será que Capitu e Escobar eram amantes? Será que Esequiel era filho dele? Será mesmo, será mesmo que fui tão idiota?
(RETIRA UM FRASCO DO BOLSO)
Bentinho, chega! Vou por todo esse veneno no café e acabar com esse tormento, (ESEQUIEL ENTRANDO COM O CAFÉ)

ESEQUIEL – Papai, papai.

BENTINHO – Você já tomou café?

ESEQUIEL – Já papai, vou a missa com a mamãe.

BENTINHO – Toma outra xícara, meia xícara só.

ESEQUIEL – E papai.

BENTINHO – Eu mando vir mais anda bebe.

ESEQUIEL – (ENTORNA A XICARA PRECIPITANDO-SE A BEBER)

BENTINHO – (DERREPENTE TOMA A XICARA DE ESEQUIEL) Não, não faça isso.

ESCOBAR – Papai, papai,.

BENTINHO – Não, não eu não sou tu pai.

CAPITU – (ENTRA PAUSA) Você pode me explicar o que está acontecendo aqui? (RETIRA ESEQUIEL DA SALA).

BENTINHO – Não há o que explicar, não ouviu o que eu lhe disse?

CAPITU – O quê?

BENTINHO – Que ele não é meu filho.

CAPITU – Só se pode explicar tal injuria, pela convicção sincera; entretanto, você que era tão cioso dos menores gestos, nunca revelou a menor sombra de desconfiança. O que é lhe deu tal idéia? Diga, diga tudo, depois do que eu vou o resto não pode muito. O que é que lhe deu tal convicção? Ande Bentinho fale, fale. Despeça-me daqui, mas diga tudo primeiro.

BENTINHO – Há coisas que não se dizem.

CAPITU – Que não se dizem metade, mais já que disse metade diga-me tudo.

BENTINHO – Não insista Capitu.

CAPITU – Não Bentinho, ou conta o resto para que me defenda ou peço desde já a separação.

BENTINHO – A separação já é coisa decidida. Não posso conviver com uma mulher que me traiu com aquele que se dizia o meu melhor amigo.

CAPITU – (RIR) O que? Bentinho eu sempre amei você. (ABRAÇANDO-LHE)

BENTINHO – (ESQUIVA-SE E DÁ UM TAPA NA CARA) Mentira! Não toque em mim.

CAPITU – Pois ate os defuntos! Nem os mortos escapam aos teus seus ciúmes? Sei a razão de tudo isso... é a casualidade da semelhança, Deus explicará tudo. (BENTINHO RIR-SE) Rir-se? É natural apesar do seminário não acredita em Deus; eu creio... mas não falemos nisto. Não nos fica bem dizer mais nada (SAI).

BREU

ANOS DEPOIS

BENTINHO – (ESTÁ SENTADO, ESCREVENDO SEU LIVRO).

BENTINHO – Aqui está o que fizemos fomos para Europa não passear e nem ver nada novo nem velho, paramos na suíça uma professora do rio grande que foi conosco ficou de companhia para Capitu, ensinado a língua materna a Esequiel que aprenderia o resto nas escolas do país. assim regulada a vida retornei ao Brasil... Capitu morreu anos mais tarde de modo natural e Esequiel morreu de febre tifóide. Moro longe e saio pouco, convivo dia e noite com a solidão. E bom, qualquer seja a solução, uma coisa fica, e a suma das sumas, ou o resto dos restos. A saber que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremoss ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem se juntando e ME ENGANANDO.

frase do dia

"Nós sempre temos tendência de ver coisas que não existem, e ficar cegos para as grandes lições que estão diante de nossos olhos."
Paulo Coelho

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

a arvore dos mamulengos- adaptada

A ÁRVORE DOS MAMULENGOS
(Vital Santos)
ADAPTAÇÃO
POR DENILSON DAVID
ATO ÚNICO
PRÓLOGO
(Entram todos os atores com movimentos mecânicos imitando bonecos)
TODOS - Bom dia, respeitável público! Nossa troupe acaba de chegar, trazendo um trabalho quase honesto em matéria de teatro popular.
ATOR 1 - Bom dia, gente bonita! Povo bom e hospitaleiro vão desculpando o atraso que isso é próprio de brasileiro!
ATOR 2 - Já está pronto o titiriteiro, o espetáculo vai começar! Arrocha o dedo sanfoneiro pra tristeza não encostar.
ATOR 3 - Vamos meu nego! Rasga esse fole, que o samba não vai ser mole com a negada que aqui está.
ATOR 4 - Vocês vão rir de montão, com uma turma que adora discussão, intriga, amor proibido, ciúmes, está formada a confusão.
ATOR 5 - Marquesinha, João Redondo, Policarpo, Porrote, Rosita, e cabo fincão, são os sujeitos que compõe essa insana encenação.
ATOR 6 - Agora com vocês, um trecho do espetáculo a árvore dos mamulengos, um teatro de bonecos que será encenado por gente de carne e osso, pé e pescoço.
TODOS - Luz, som, ação, o espetáculo vai começar!
ABREM-SE AS CORTINAS
MARQUESINHA - Se essa rua, se essa rua, fosse minha eu mandava, eu mandava ladrilhar...
JOÃO REDONDO - (ENTRANDO) Oi Marquesinha!
MARQUESINHA - João Redondo!
JOÃO REDONDO - Como me dói em saber que não podemos ficar juntos!
MARQUESINHA - Não faz assim João Redondo, você sabe que eu sou obrigada a casar com o Cabo Fincão, de quem eu gosto mesmo é de você.
JOÃO REDONDO - Aquele velho conspira contra nós, mais nada, nada vai me fazer desistir de você. Eu te amo com toda minha alma!
MARQUESINHA - Ora João Redondo, não seja tão dramático ate parece que estamos no teatro!
JOÃO REDONDO - Marquesinha, eu tenho uma surpresa pra você! É um objeto de estimação foi da minha tataravó agora é seu.
MARQUESINHA - Meu João Redondo?
JOÃO REDONDO - Todinho! Lá vem o vei! Lá vem o vei!
MARQUESINHA - Lá vem o vei! Lá vem o vei!
JOÃO REDONDO - Olhe às 10 em ponto na árvore dos mamulengos, agora não vai fazer como ontem...
MARQUESINHA - E se o meu pai estiver acordado?
JOÃO REDONDO - Ah! Inventa qualquer coisa, que vai dá uma cagada! (SAI).
ENTRA POLICARPIO E CABO FINCÃO
POLICARPIO – Marquesinha, Marquesinha, menina.
MARQUESINHA – Pai o senhor por aqui!
POLICARPIO – Não é a Xuxa, num tá me vendo não é?
CABO FINCÃO – Como vai Marquesinha?
POLICARPIO – Responda menina!
MARQUESINHA – O que ele quer, pai?
CABO FINCÃO – Você gosta de circo?
MARQUESINHA – Gosto!
CABO FINCÃO – Você não que ir comigo? Dizem que o circo que está na cidade é ótimo.
POLICARPIO – Claro que quer né, filha!
MARQUESINHA – Depois.
CABO FINCÃO – Depois?
MARQUESINHA – Depois também não!
POLICARPIO – Essa menina, essa menina me mata! Cabo Fincão vamos lá em casa que eu tenho um vinho daquele.
MARQUESINHA – De que serve a gente nascer, crescer, se não pode ter a vida que sempre sonhou! (SENTE-SE MAL E DESMAIA)
PORROTE – (VÊ MARQUESINHA CAÍDA) Marquesinha, Marquesinha, Marquesinha coitada ela nem se mexe.
ROSITA – (ENTRANDO) Porrote meu amor. (VÊ A CENA E ESCONDE-SE) Ah cachorro da molesta, a desgraçado, quem é aquela cretina? Ah infeliz das costa oca você me paga, espere ainda! (SAI).
PORROTE – Marquesinha acorde! Ah meu Deus, não tem jeito não, o que eu faço... Essa foi muito boa, essa foi a melhor o jeito que tem é levar ela pra casa.
ROSITA – (ENTRANDO PELO LADO OPOSTO) Tenha vergonha cachorro safado, Oxênte pra onde foram fugiram? Ah se eu pego aquele traidor aquele conquistador barato, quebrava esse pau na cabeça dele pedacinho por pedacinho, eu deixo de ser mulher, eu deixo de vestir saia, se eu não castrar aquele bexiga preta. Oxênte o que é isso? Um colar, quem terá perdido? Ah quem me dera.
PORROTE – (VOLTANDO) Coitada da Marquesinha! (VÊ ROSITA COM O COLAR E ESCONDE-SE)
ROSITA – (SEM VÊ-LO) Ouro maciço... Isso deve ser uma fortuna!
PORROTE – Ah! Mas vejam só... Peguei a desgraçada com a mão na botija agora quero só vê o que ela vai dizer, quero só vê!
ROSITA – Quem não fica bonita com uma formosura dessas?
PORROTE – Quem será o vagabundo que lhe deu esse presente? Olha lá a bonita chega a sonhar pensando no sujeito. Quem terá sido esse individuo que cagou em cima da minha honra.
ROSITA – Como foi que isso veio parar aqui?
PORROTE – (AVANÇA E TOMA O COLAR DELA) Sim desgraçada, peguei em flagrante um presentinho não é?
ROSITA – Um, o quê?
PORROTE – Ora, um o que! Então eu lhe pego com a arma do crime na mão e você ainda pergunta um quê?... Com pouco vai me dizer que caiu do céu...
ROSITA – Tenha vergonha nessa cara, homem!
PORROTE – Vergonha? Ainda não só eu que ter vergonha!
ROSITA – Chega com essa conversa, cretino!Eu já tô por aqui, com suas enroladas. Tá pensando que eu não vi?
PORROTE – Ah! Quer dizer que você me viu, não foi?
ROSITA – Claro que vi! Tá pensando que sou cega? Eu vi tudo!
PORROTE – Ah! Então foi proposital? Só pra me humilhar, pra me desmoralizar? Você vai pagar caro por essa desonra! Vou lhe mostrar quem é Porrote Botelho Prego Torto! Vou quebrar-lhe todas as costelas. Vou torcer o seu pescoço filha do cão, arrancar-lhe os caroços dos olhos com uma faca, quebrar-lhe os dois braços e as duas pernas com esse pau, dar-lhe uma mãozada no pé-de-ouvido, do fucinho virar pra trás e tirar-lhe o coro viva! Só isso, só isso...
ROSITA – Vem murrinha, vem!... Vem pra você vê que é Rosita Rabo Quente Zeca Galo, natural de Cabedelo Estado da Paraíba! Vem que eu quero quebrar esse pau na tua cara!
PORROTE – E a desgraçada ainda me desafia! Eu vou tomar esse pau e arrebenta-lo na suas venta.
ROSITA – Vem! Vem conquistador barato! Vem pra eu lhe mostrar com quantos paus se faz uma canoa!
PORROTE – Você está pensando que eu estou brincando? (PARTE PRA CIMA DELA) Agora me vingo!...
ROSITA – (METE-LHE O PORROTE) Tome! Tome seu imprestável! Tome mais! (ELE REAGE. ELA SAI CORRENDO COM MEDO) Socorro!...
PORROTE – Espere... Espere aí, condenada! Chegar em casa você me paga, ouviu? Vai pagar e é dobrado! Confie nessas mulheres, confie! Vagabunda! Prostituta! Me traindo por uma porcaria dessa... (MOSTRA O COLAR) Vê mesmo, hum! Se pelo menos fosse uma jóia preciosa, mas não. Ah! Tarada sem vergonha! (COM RAIVA) Mas também tem uma coisa, se eu pegar esse sujeito... Não quero nem pensar o que vai acontecer!
JOÃO REDONDO – (ENTRANDO NA PONTA DO PÉ) Já tá quase na hora, será que ela já... (VÊ PORROTE) Oxênte... Tem alguém lá...
PORROTE – (OLHANDO O COLAR) Eis o preço da minha honra.
JOÃO REDONDO – (ESCONDIDO) O colar!... O que é que esse tinhoso tá fazendo com ele aí?
PORROTE – Coitado de mim. Que sorte cotó, traído por um pedaço de lata velha.
JOÃO REDONDO – (PENSATIVO) Eu dei ele hoje a Marquesinha...
PORROTE – O que é que o povo vai dizer. O que vão pensar de mim... Ah! Meu Deus estou acabado, destruído, desmoralizado!...
JOÃO REDONDO – (IDEM) Será que ela...
PORROTE – Por onde eu passar agora, eles vão apontar, é aquele o corno da MAISA. Que sina desgraçada essa minha. Se não gostasse tanto daquela...
JOÃO REDONDO -... Não, eu não posso imaginar uma coisa dessa Marquesinha. Êpa! Esse pau tem formiga, não tô gostando nada disso. (VAI A ELE) Boa Noite.
PORROTE – (IRRITADO) Só se for pra você!
JOÃO REDONDO – (À PARTE) Que tipo esquisito...
PORROTE – O que foi que o senhor falou?
JOÃO REDONDO – Nada! Eu disse que esse colar é bonito.
PORROTE – Você acha é?
JOÃO REDONDO – Bem quer dizer... É do senhor?... Digo da sua mulher?
PORROTE – (AFOBADO) Pronto! Já começou. Esse colar meu amigo foi... (SUSPEITANDO) Ah!... Agora estou entendendo tudo, você chegou atrasado ao encontro, ela já foi embora.
JOÃO REDONDO – Ela quem?
PORROTE – A vagabunda que você deu esse maldito colar!
JOÃO REDONDO – Esse colar eu dei a minha... (DESCONFIADO) Quem é o senhor?
PORROTE – Eu sou há muito tempo, amante da sua... Da miserável que você deu essa bosta desse colar! Há muito que eu ando desconfiado do seu chameguinho com ela, ouviu? Mas finalmente descobri! Peguei o pato com o bico n´água! E sabe o que eu vou fazer?!... Vou chamar o Cabo Fincão, pra meter os dois na cadeia! (SAI).
JOÃO REDONDO – (ARRASADO) É incrível! É inacreditável... Ela podia enganar todo mundo menos eu.
ROSITA – (ENTRA FURIOSA) Olha lá, o desgraçado... O bexiguento na certa marcou encontro com outra. Ah! Infeliz, você agora me paga... (VAI SE APROXIMANDO)
JOÃO REDONDO – É como se esse teto tivesse caído em cima de mim. É como se eu tirasse o meu chapéu e alguém me acertasse traiçoeiramente uma paulada na minha cabeça, me mandando pra o inferno!... (ROSITA METE-LHE O PAU NA CABEÇA).
ROSITA – Tome condenado! Pra você nunca mais... (JOÃO REDONDO CAI DESMAIADO) Meu Deus do céu! Matei o homem errado! Ele tá mais frio do que bunda de anjo! Por nossa senhora, moço, responda, o senhor morreu? Coitadinho nem se mexe... Que situação meu Deus. Tudo por causa daquele excomungado!...
PORROTE – (VOLTANDO) Onde danado esse cabo se meteu... (VÊ ROSITA COM ELE NO COLO) Não!... Não, eu estou sofrendo da vista! Estou tendo visões! Sim, eu estou louco, isso não pode ser verdade!... É ilusão de ótica! Eu enlouqueci...
ROSITA – Meu Deus do céu, o que foi que eu fiz. Oh Diabo!...
JOÃO REDONDO – (LEVANTA ATORDOADO) O diabo!... Onde é que ele tá? Eu quero falar com ele. (SAI)
MARQUESINHA – João Redondo, ei João Redondo, psiu João Redondo. Meu Deus o que foi que deu nele. O que foi que deu no João Redondo seu Porrote?
PORROTE – (VOLTANDO A SI) Ah! Então esse é o nome daquele cachorro da gota, é?
MARQUESINHA – Por quê?
PORROTE – Porque ele arruinou a minha vida destruiu o meu lar, peguei aquele desgraçado nos braços da minha mulher.
MARQUESINHA – Quando?
PORROTE – Agora a pouco.
MARQUESINHA – Tem certeza?
PORROTE – Claro! Vi com os meus próprios olhos a muito que eu ando desconfiado. Mas só hoje pude ter a certeza. Quando vi os dois abraços trocando juras de amor.
MARQUESINHA – Que dizer que ele e dona Rosita.
PORROTE - São amantes.
MARQUESINHA – Logo vi, foi por isso que ele nem me ligou, meu pai tem razão quando diz que todos os homens são cachorros. Eu imagino como você deve está sofrendo seu Porrote...
PORROTE – Ah! Marquesinha não queira nem pensar. E o pior é que eu gosto daquela desgraçada.
MARQUESINHA – Este mundo velho está fedido, a humanidade está podre. (SENTE-SE MAL NOVAMENTE) Ai, ai.
PORROTE – (SEGURA ELA NOS BRAÇOS) Marquesinha... Está se sentido mal? O que foi?
CABO FINCÃO ENTRA COM ROSITA
ROSITA – É logo ali, Cabo Fincão! Na Árvore dos Mamulengos!
CABO FINCÃO – E será que ele ainda está lá?
ROSITA – Deve está!
CABO FINCÃO – Então vamos lá, isso deve ser uma cachorrada dos diabos. Marquesinha não, não é possível isso é demais pra mim... Meu Deus que vergonha que humilhação essas coisas só acontecem comigo. Eu sou corno, eu sou corno, eu sou corno. Não tenho mais cara, estou destruído, acabaram comigo... (SAI)
ROSITA – A filha do Policarpo, a mocinha safada, a uma espingarda boa aqui pra arrancar a cabeça dos dois.
PORROTE – Melhorou Marquesinha?
MARQUESINHA – Estou melhor seu Porrote, desculpe ter-te incomodando.
PORROTE – Ora Marquesinha, o que é isso.
JOÃO REDONDO – (ENTRA CORRENDO PARA ROSITA) O que aconteceu com o Cabo Fincão, ele saiu correndo desembestado de rua abaixo.
PORROTE – Vamos embora Marquesinha, eu acompanho você ate em casa.
ROSITA – Um momento.
MARQUESINHA – João Redondo! Hum!
JOÃO REDONDO – Você Marquesinha!
PORROTE – E você ainda tem coragem de aparecer na minha vista?
ROSITA – Será que você não está vendo que essa palhaçada não tem mais graça. Porque não me disse logo?
PORROTE – Dizer o quê?
ROSITA – Que estava de chamego com essa cínica. (APONTA).
PORROTE – Dobre essa língua nojenta, ou você tá pensando porque está com esse sujeito não leva uma mãozada.
ROSITA – Eu sei lá esse cara de mamão macho!
PORROTE – Ah! Sabe não é? E de quem é isso daqui?
MARQUESINHA – É meu!... Foi o João Redondo que me deu!
JOÃO REDONDO – Marquesinha, como esse colar caiu nas mãos dele?
PORROTE – Pergunte a ela!
ROSITA – Bem... Eu achei por acaso, estava logo ali na árvore dos mamulengos.
MARQUESINHA – Pois é, foi justamente ali que eu me senti mal e seu Porrote me levou pra casa.
PORROTE – Quer dizer que este colar...
JOÃO REDONDO – É da Marquesinha!
ROSITA – Então naquela hora...
PORROTE – Ela estava desmaiada!
MARQUESINHA – Foi...
ROSITA – Então...
PORROTE – É...
JOÃO REDONDO – Ah!... (TODOS RIEM).
PORROTE – Ah! Finalmente tudo não passou de um mal entendido. Desculpe rosinha, eu sei que fui...
ROSITA – Não adianta Porrote! Isso é uma doença. Você nunca vai acabar com essa mania de ciúme e desconfiança...
PORROTE – E se eu prometer?
ROSITA – De que serve! Sempre não cumpre, por qualquer coisinha vem logo...
DUBLAGEM DA MÚSICA “NÃO SE VÁ”
PORROTE– Não Rosinha agora vai ser diferente... Eu vou ligar um presente você vai ficar contente disso eu tenho certeza.
ROSITA – Porrote um presente, oba, oba, oba, oba que beleza. Eu adoro surpresa, Porrote que maravilha o que é isso que tanto brilha? É uma jóia com certeza!
PORROTE – Feche os olhos minha Rosita pra surpresa ser maior! (COLOCA NO PESCOÇO DELA). Oh! Como ficou bonita de cólera no gogó!... Agora estou tranqüilo acabou-se isso e aquilo você será minha só! (SAI PUXANDO-A).
MARQUESINHA – (RINDO) Graças a Deus tudo voltou ao normal. Ah! João Redondo eu imaginei cada coisa...
JOÃO REDONDO – Não Marquesinha, você esquece que tem o cabo fincão pela frente.
MARQUESINHA – Ah! Mais isso é outra coisa João Redondo.
JOÃO REDONDO – Não adianta insistir, Marquesinha, nós nunca seremos nada, nunca passaremos de personagens de histórias lendárias.
MARQUESINHA – Mas João Redondo...
POLICARPIO – Marquesinha, Marquesinha! Aconteceu uma grande desgraça, minha filha! Uma tragédia!
MARQUESINHA – O que foi pai?
POLICARPIO – O cabo Fincão fugiu! Desapareceu!... Verdade minha filha, foi embora sem dizer nem pra onde ia, levou tudo que era dele, só deixou mesmo isso daqui para lhe entregar. João Redondo! O cabo fincão ele se foi!
JOÃO REDONDO – Marquesinha! Agora poderemos ser felizes!
POLICARPIO – Eu mereço!
MARQUESINHA – João Redondo!
JOÃO REDONDO – Marquesinha!
MARQUESINHA E JOÃO REDONDO ENTREOLHAM-SE E ABRAÇAM-SE.
Marquesinha canta: “XOTE DE MENINA”